"Não acho que uma administração [Donald] Trump [após as presidenciais de novembro] considerasse a União Europeia um interlocutor natural, ao contrário de [Joe] Biden", disse o norte-americano em entrevista à Lusa em Lisboa.
Uma vitória do ex-presidente, adiantou, poderia por isso introduzir uma nova fase, de menor relevo dado por Washington a Bruxelas, atendendo até ao historial de Trump de "relações bilaterais marcadas por relacionamentos individuais com líderes específicos" no continente europeu, em vez do bloco como um todo.
Convidado pela Fundação Luso-Americana para abrir, na segunda-feira, um ciclo de conferências dedicadas às eleições Presidenciais dos Estados Unidos, Ian Lesser lidera o escritório do German Marshall Fund (GMF), em Bruxelas.
Coordena ainda o GMF South, um programa que abrange pesquisa e análise de desenvolvimentos no Sul da Europa, Turquia, Mediterrâneo e nas relações Norte-Sul na região do Atlântico, sendo doutorado pela Universidade de Oxford.
Para Lesser, uma potencial "disfunção Estados Unidos-União Europeia" afetaria Portugal, que tem mantido como vetores da sua política externa a integração europeia e a relação transatlântica, mas sem introduzir particulares dificuldades à relação bilateral com Washington.
"Claramente Portugal está altamente investido na continuidade e previsibilidade das relações chave da Aliança Atlântica e económicas transatlânticas", sublinha o especialista norte-americano, que viveu vários anos em Portugal.
Sobretudo no caso de uma vitória do candidato republicano, é possível conceber no período pós-eleitoral "um ambiente muito mais difícil, com muito mais nacionalismo económico, e não apenas nos Estados Unidos", a par de maior proteccionismo dos principais blocos económicos.
No que diz respeito às relações transatlânticas, as ideias de Trump distinguem-se das de Kamala Harris em relação à "partilha do fardo" das despesas na NATO, em particular na exigência de que países como a Alemanha invistam mais em defesa, não sendo Portugal um dos países normalmente destacados nesta questão.
"Trump tornaria, indo além de outras administrações [norte-americanas], os gastos na Defesa [europeus] em relação ao PIB mais um 'fetiche'. Mas todos querem que os europeus façam mais [para a sua Defesa], individualmente e como um todo", diminuindo a dependência em relação a Washington, afirma.
Contudo, sublinha Lesser, "muita da relação" entre Washington e Lisboa baseia-se hoje nas relações interpessoais, nomeadamente a comunidade luso-americana, bem como no turismo e outros negócios.
"Essas são realmente características estruturais, e isso não vai mudar", independentemente de quem ganhe as eleições de novembro, afiança o especialista norte-americano.
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