O primeiro-ministro, Luís Montenegro, discursou, esta quinta-feira, diante da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), tendo dado conta de que, apesar de "em muitas partes do mundo" as autocracias colocarem em causa a democracia, tem "esperança" e "confiança na força da liberdade".
"Não posso deixar de reconhecer o peso da responsabilidade que recai sobre todos nós, representantes dos povos das Nações Unidas. Faço-o num momento particularmente exigente, marcado pela confluência de múltiplos desafios e crises de natureza global e por crescentes tensões geopolíticas. Mas faço-o com esperança e confiança", começou por dizer o chefe do Governo, na sua primeira intervenção na ONU.
O responsável explicou que, apesar das circunstâncias, sente esperança "porque este é o ano em que se comemoram 50 anos da liberdade" em Portugal.
"O povo português, em liberdade, clamou por democracia, paz e desenvolvimento, e assim dobrou o arco da história. Numa altura em que em muitas partes do mundo autocracias põem em causa a democracia, temos confiança na força da liberdade", disse.
Montenegro não deixou de mencionar não só os conflitos no Médio Oriente, como também a guerra na Ucrânia, tendo apelado a que, "agora, no Líbano, o Conselho de Segurança possa ser eficaz para evitar o aumento da escalada de violência", ao contrário do que fez em Kyiv.
Não hesitamos. Queremos avançar com a reforma do sistema de governação global para garantir maior representatividade, transparência, justiça e cooperação
O primeiro-ministro considerou ainda ser "imprescindível que em Gaza e no Sudão todas as partes façam o que estiver ao seu alcance para assegurar a plena implementação das resoluções adotadas por este Conselho".
"Numa altura em que enfrentamos uma ameaça grande à paz, temos confiança na força do multilateralismo e da responsabilidade coletiva. Numa altura em que se agudizam os desafios em matéria de desenvolvimento, temos confiança no crescimento económico como motor do progresso justo e sustentável", acrescentou.
No seu discurso, feito em português, o chefe do Governo PSD/CDS-PP realçou que Portugal apoia o Pacto do Futuro impulsionado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e subscreve o seu entendimento de que "o multilateralismo enfrenta um dilema fundamental: avançar ou colapsar".
"Não hesitamos. Queremos avançar com a reforma do sistema de governação global para garantir maior representatividade, transparência, justiça e cooperação. Esse é o caminho que nos aponta o Pacto do Futuro: redesenhar a arquitetura financeira internacional, promovendo um maior alinhamento com os objetivos de desenvolvimento sustentável", acrescentou.
O primeiro-ministro reiterou ainda a defesa de "um processo de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas que o torne mais representativo, ágil e funcional", com mudanças na sua composição e "a limitação e o maior escrutínio do direito de veto".
Apresentando Portugal como "defensor intransigente do multilateralismo", salientou: "É com essa confiança no multilateralismo que Portugal, com a continuidade e coerência que caracteriza a nossa política externa, é candidato a um lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança, para o biénio 2027-2028."
Saliente-se que a intervenção de Montenegro no debate geral da 79.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que estava prevista para o período da tarde, foi antecipada.
Segundo a lista das Nações Unidas, o chefe do Governo português seria o quinto a discursar no período da tarde, já de noite em Lisboa.
[Notícia atualizada às 19h54]
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