Em declarações à Lusa, à margem da audição regimental que hoje decorre no parlamento, a ministra Rita Alarcão Júdice disse que entende estarem reunidos em Amadeu Guerra "todos os requisitos" que enunciou no perfil de procurador-geral da República traçado em entrevista ao Observador em junho.
Nessa entrevista, referiu-se a uma "certa descredibilização" do Ministério Público (MP) e pediu que o próximo Procurador-Geral da República inicie "uma nova era" e "ponha ordem na casa" - palavras que mereceram críticas do sindicato dos magistrados do MP e alguns partidos - tendo ainda na mesma entrevista traçado um perfil de liderança e de comunicação para o sucessor de Lucília Gago.
"Parece-me uma nomeação correta, que foi uma nomeação feita em concertação com o Governo e pelo senhor primeiro-ministro com a concordância do senhor Presidente da República e na qual me revejo e me identifico e estou muito satisfeita e deposito grandes esperanças no novo PGR, que possa também ser uma nova era, um virar de página na PGR", disse hoje a ministra.
Questionada sobre se entende ser um nome que apazigua o atual momento no Ministério Público (MP), a ministra disse não querer "especular sobre as tensões no MP".
"Julgo que é a pessoa certa no lugar certo no momento certo e que acredito que possa fazer uma diferença. Acho que é muito respeitado, tem um currículo que fala por si e acredito que vá fazer um bom trabalho", afirmou.
O antigo diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e ex-procurador-geral distrital de Lisboa Amadeu Guerra foi o nome escolhido para o cargo de Procurador-Geral da República (PGR).
Amadeu Guerra, de 69 anos, nascido em Tábua (Coimbra), licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, desempenhou diversas funções como magistrado do Ministério Público, designadamente no Tribunal de Trabalho de Lisboa e Tribunal Criminal da Boa Hora.
Como magistrado Amadeu Guerra ascendeu a procurador-geral adjunto em junho de 2004, tendo em 2008 assumido a coordenação do Tribunal Central Administrativo do Sul.
Porém, o seu nome tornou-se mais conhecido do grande público quando, entre 2013 e 2019, desempenhou as funções de diretor do DCIAP, o departamento do MP especializado na investigação da criminalidade económico-financeira mais grave, complexa e organizada, ligada aos grandes casos de corrupção, branqueamento de capitais e outros crimes de colarinho branco.
Considerada uma pessoa discreta, trabalhadora e eficaz por colegas do MP, Amadeu Guerra assumiu em 2013 a liderança do DCIAP durante o mandato de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República.
Sob a sua liderança, este departamento de elite do MP investigou processos mediáticos como a Operação Marquês (que tem como principal arguido o antigo primeiro-ministro José Sócrates) ou a Operação Fizz, que levou à acusação e condenação por corrupção do procurador Orlando Figueira, que, por ironia, pertenceu ao DCIAP.
A cerimónia de posse de Amadeu Guerra está marcada para 12 de outubro pelas 12:30 no Palácio de Belém, após o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o ter nomeado hoje como Procurador-Geral da República.
A procuradora-geral da República, Lucília Gago, manifestou hoje satisfação pela nomeação do magistrado Amadeu Guerra para lhe suceder à frente da Procuradoria-Geral da República, destacando a "vasta experiência" do antigo diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal.
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