Morte de meros nos Açores pode estar relacionada com o aquecimento do mar

Investigadores da Universidade dos Açores consideram que não há "qualquer evidência" que os arrojamentos na região estejam associadas à pesca.

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© Extremo Ocidente / Carlos Mendes

Notícias ao Minuto
09/10/2024 10:24 ‧ 09/10/2024 por Notícias ao Minuto

País

Açores

O mistério que envolvia as alterações de comportamento (e morte) de vários peixes, principalmente meros, nos Açores, parece estar finalmente resolvido, depois de mais de um mês de investigações.

 

Através de um comunicado, divulgado na terça-feira, 8 de outubro, o instituto Okeanos da Universidade dos Açores revelou que não há "qualquer evidência" que os arrojamentos e mortes de meros na região estejam associadas à pesca, podendo-se estar perante surtos virais resultante do aquecimento do mar.

Os investigadores da Universidade dos Açores recordam que "já foram reportadas no passado situações comparáveis, envolvendo esta mesma espécie no Mediterrâneo, tipicamente associadas a surtos virais ou bacterianos, desencadeados durante períodos de aquecimento anormal do mar", tal como aconteceu, este verão, no arquipélago português.

"Sabe-se que as doenças e patologias emergentes em espécies marinhas são muitas vezes desencadeadas por anomalias ambientais", refere a mesma nota.

Os cientistas recordam ainda que nos Açores "tem-se verificado uma substancial e persistente anomalia térmica do mar nos últimos verões", tendo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) já reportado que 2024 teve "o verão mais quente dos últimos 80 anos na região", com a temperatura da superfície do mar a atingir "uns históricos 27,3º C e anomalias térmicas superiores a 2º C".

"Os habitats costeiros e as espécies neles residentes, incluindo o mero, estão especialmente sujeitos aos impactos destas ondas de calor visto que a camada mais superficial do oceano está anormalmente quente e atinge profundidades maiores que o habitual", explicam.

Por outro lado, lembra ainda a Okeanos, "95% dos meros reportados são animais maturos (>55 cm) encontrando-se no final da época de reprodução, sendo por isso também expectável que estejam particularmente vulneráveis".

Os cientistas defendem, por isso, a monitorização continuada da situação e o desenvolvimento nos Açores de mecanismos de alerta precoce para "prever, detetar e atuar de forma planeada e concertada perante situações que venham a ocorrer num contexto atual de alterações globais em aceleração".

Nodavirus ameça peixes em Espanha e França

Note-se que, no dia 1 de outubro, precisamente uma semana antes da Okeanos ter divulgado esta informação, o Notícias ao Minuto deu conta que em Espanha e França, foram registados vários casos semelhantes ao dos meros, nos Açores.

Nestes países, os investigadores relacionaram as mortes e comportamento anormal destes animais com o nodavirus, um vírus mortal que ataca o sistema nervoso dos peixes, mas que não é transmissível ao ser humano.

Nestes casos, a explicação pode estar (também) relacionada com o aumento da temperatura da água.

Recorde-se que, a 27 de setembro, na sequência de vários avistamentos nas águas da região de arrojamentos e mortes, o Governo dos Açores interditou temporariamente a pesca de mero, o que se mantém, pelo menos, para já.

Leia Também: Nodavirus ameaça peixes em França e Espanha. Açores com o mesmo problema?

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