Portugueses com fome procuram ceia distribuída pela Comunidade Vida e Paz
Muitos portugueses que não vivem na rua mas têm falta de dinheiro para comprar alimentos estão a procurar as carrinhas da Comunidade Vida e Paz para recolher a ceia distribuída pelos voluntários em Lisboa, informou o presidente da instituição.
© Mário Vasa / Global Imagens
"Há muitas pessoas que vêm ter às nossas carrinhas para recolher a pequena ceia que nós damos, para reforçar a sua falta de capacidade financeira para adquirir alimentação", afirmou Horácio Félix em declarações à Lusa, à margem das Jornadas Motivar para a Mudança, evento que celebra 35 anos de dedicação à causa.
Voluntários da Vida e Paz deslocam-se todas as noites à rua para entregar ceias a pessoas em situação de sem-abrigo em Lisboa, mas também a pessoas em situação de vulnerabilidade social, cujos pedidos de apoio têm "aumentado muito", segundo o presidente.
Os focos do fenómeno das pessoas sem-abrigo estão localizados em Lisboa, Porto e Algarve, embora esteja a aumentar em algumas localidades devido aos migrantes.
Lembrando que os números mais atuais sobre a população sem- abrigo são de 2022, e que já eram preocupantes, Horácio Félix contou que a sensação dos voluntários do contacto diário com a rua e os dados que a Comunidade Vida e Paz dispõe indiciam que nos dois últimos anos tem aumentado 20% em cada ano.
Entre os sem-abrigo há migrantes que vieram à procura de melhores oportunidades que acabaram por não se concretizar mas a Comunidade Vida e Paz tem notado um aumento de portugueses, especialmente pessoas com adições (álcool ou drogas), um problema que o presidente da instituição diz ser muito preocupante.
Os desafios em relação às pessoas sem-abrigo aumentaram muito nos últimos anos e tornaram-se diferenciados, afirmou o presidente da Comunidade Vida e Paz, considerando que há um aumento muito preocupante de adições na comunidade migrante e entre os nacionais que vivem nas ruas.
As pessoas que estão na rua e a necessitar especialmente de tratamento ao nível de adições e doença mental têm aumentado e os apoios da parte pública têm diminuído, lamentou Horácio Félix.
O trabalho da Comunidade Vida e Paz de 35 anos de dedicação à causa foi destacado pelo coordenador da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em situação de sem-abrigo, Henrique Joaquim, nas Jornadas Motivar para a Mudança, que sublinhou o pioneirismo e capacidade de reinvenção permanente da instituição.
"Os desafios são persistentes, mas há 35 anos pergunto-me quantas organizações iam para a rua, de forma organizada, cuidar destas pessoas [em situação de sem-abrigo]", disse, destacando tratar-se de um problema social complexo e múltiplas causas, que necessita de uma abordagem centrada na pessoa.
Henrique Joaquim lembrou que foi há sete anos que a Comunidade Vida e Paz lançou uma petição nacional para que houvesse uma estratégia nacional de integração de pessoas sem abrigo, e que essa estratégia está atualmente em revisão e em breve "estará cá fora, com dados atualizados".
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