"A minha preocupação com este anúncio é ver nele uma coisa em que somos pródigos que é o adiamento de uma operacionalização ou do lançamento dos estudos básicos para se poder sonhar e construir seja o que for", afirmou Inês de Medeiros, em declarações à agência Lusa, na sequência do anúncio do primeiro-ministro de um projeto de reabilitação da Área Metropolitana de Lisboa (AML).
Inês de Medeiros, que disse não ter sido informada sobre o projeto, lembrou que há ano e meio foi criado o Arco Ribeirinho Sul, que identificava as prioridades concretas a serem feitas para a zona.
"Não tenho dúvidas que tem de haver um pensamento estratégico para toda a área metropolitana, mas houve avanços consideráveis com a criação do Arco Ribeirinho Sul, SA e que foi uma tentativa de ir ao cerne da questão e de identificação de prioridades", salientou.
No domingo, no 42.º congresso do PSD, em Braga, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou o que classificou como um "grande projeto de reabilitação da Área Metropolitana de Lisboa" (AML), para "erguer uma metrópole vibrante e homogénea" nas duas margens do rio Tejo.
Luís Montenegro falou de um plano, desenvolvido em três polos para, "de forma concertada, erguer uma grande polis com duas margens".
De acordo com o primeiro-ministro, será criada a Sociedade de Gestão Reabilitação e Promoção Urbana, a que o Governo dará o nome de Parque Humberto Delgado, e que "será o instrumento para pensar, projetar e ordenar o Arco Ribeirinho Sul nos municípios de Almada, Barreiro e Seixal".
Um segundo polo será o Ocean Campus, entre o vale do Jamor e Algés, nos municípios de Lisboa e Oeiras, e o terceiro irá aproveitar os terrenos que serão libertados com o fim do atual aeroporto Humberto Delgado, nos municípios de Lisboa e Loures.
Questionada sobre o anúncio de Luís Montenegro, a presidente da Câmara Municipal de Almada (PS), no distrito de Setúbal, disse não ver qualquer razão para que seja posto em causa o que já estava definido.
"Todos nós sabemos o que queremos e devemos fazer no Arco Ribeirinho Sul e na sua importância estratégica para a Área Metropolitana de Lisboa. Não é preciso continuar a pensar. É preciso é começar a por ações concretas no terreno para tornar esses projetos viáveis e exequíveis", defendeu.
Em causa, explicou, estão ações concretas como a despoluição dos terrenos do Barreiro e Seixal e, no caso de Almada, estudar a estrutura dos terrenos da Margueira e fazer os estudos de mobilidade que faltam fazer.
Inês de Medeiros assegurou ainda que os municípios estão prontos, identificaram as necessidades e estão disponíveis para fazer os planos de pormenor necessários.
"O Estado que não continue a fugir às responsabilidades mínimas e não é uma nova mega estrutura que vai tornar as coisas possíveis", saientou.
Por outro lado, acrescentou, é necessário falar com os municípios sobre estas matérias.
"Confia-se nos municípios para gerir as escolas, confia-se nos municípios para gerir os centros de saúde, confia-se nos municípios para a atribuição dos apoios sociais. Confia-se para tudo exceto para gerir o seu território onde o Estado acha que se pode sobrepor. Não pode", argumentou.
Por isso, acrescentou, é urgente que o primeiro-ministro receba os três municípios para explicar o que está em causa e o que quis dizer com o anúncio que fez no domingo.
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