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Manhã calma no bairro da Portela onde ainda jazem viaturas incendiadas

A manhã no bairro da Portela, em Carnaxide, onde ainda jazem viaturas incendiadas pelos ânimos exaltados na véspera ao cair da noite, é de calma com as poucas pessoas na rua a fazerem a sua vida normal.

Manhã calma no bairro da Portela onde ainda jazem viaturas incendiadas
Notícias ao Minuto

23/10/24 12:33 ‧ Há 2 Horas por Lusa

País Carnaxide

À entrada do bairro, na Estrada da Portela, ainda se encontra a carcaça do autocarro ardido que rolou pela estrada arrastando consigo um outro carro e que só pararam de encontro à casa de Ricardo Silva.

 

"Estava entretido no computador e, de repente, ouvi um grande estrondo e um clarão grande. Associei logo ao vandalismo que se ouvia falar na comunicação social. Tinha a janela da sala de estar aberta e nem queria acreditar quando vi que era um autocarro, pensei num caixote do lixo", disse à Lusa o morador do Pátio do Minota.

Depois, conta, o calor era tanto dentro de casa, que saiu sem conseguir fechar as janelas e nem usar o pequeno extintor que entretanto agarrou pelo caminho.

"As labaredas subiram até ao telhado e a sorte foi o vento estar a soprar para o lado oposto. Para o crente foi um milagre de Deus, para o não crente foi uma coincidência. Para mim, foi um milagre", desabafou, falando à porta de casa, de primeiro e segundo andar.

Na casa em frente, os vidros também ficaram estilhaçados e os estores derretidos. A moradora assomou-se por instantes à janela e a imagem que tinha à sua frente era diferente das outras manhãs: o esqueleto do autocarro e de uma viatura ligeira ardidos e água espalhada pelo chão.

Os desacatos têm sucedido desde segunda-feira após a morte de um homem baleado pela PSP na Cova da Moura, Amadora, e que se multiplicaram a várias zonas do distrito de Lisboa, nomeadamente Carnaxide (Oeiras), Casal de Cambra (Sintra) e Damaia (Amadora).

Na terça-feira à noite, um autocarro, vários caixotes do lixo e uma viatura ligeira foram incendiados no bairro da Portela. Hoje ainda se mantêm os destroços, mas as poucas pessoas que andam pela rua vão, na maioria, trabalhar e não quiseram falar à Lusa.

Exceção para Mário Mendes, que mora no bairro da Portela há 33 anos e que explicou ter sido a primeira vez que "aconteceu uma coisa destas" no local, sublinhando que os acontecimentos "não representam de todo" os moradores do bairro que pertence ao concelho de Oeiras.

"Aquilo foi uma franjita. Um peixe podre estraga uma caixa inteira", disse, reconhecendo que as pessoas do bairro "são trabalhadores honestos que lutam pelo seu dia a dia" e não se revê nos acontecimentos.

Pelas ruas ainda se percebe os locais onde arderam os caixotes de lixo. O alcatrão derretido juntamente com detritos provocam pequenas lombas na estrada, mesmo depois de os trabalhadores dos serviços de higiene urbana da Câmara Municipal de Oeiras terem andado a limpar e a lavar os estragos.

Pelo bairro também se vêm sinais de trânsito caídos e a placa da Rua Dr. António João Eusébio jaz no chão, ao lado da carcaça preta do autocarro.

Apesar de invisual, Mário Mendes disse à Lusa que conseguiu ver mais que muita gente, frisando que pelas redes sociais "se propagam vírus muito piores que a covid".

"Está à vista de todos, o que aconteceu pelos vários bairros ontem [terça-feira] foi o mimetismo do que teve início com a morte de Odair na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura", explicou.

Agora há que "apaziguar os ânimos, proteger todos", entre polícias e moradores dos bairros mais sujeitos a estes fenómenos, disse, esperando que a noite de hoje seja calma, "porque a incógnita permanece se poderá ou não voltar a acontecer tumultos".

"Não tenho receio, isto nunca tinha acontecido aqui. Só os jovens é que vão poder ficar prejudicados e com o estigma de serem moradores da Portela de Carnaxide", reconheceu.

O presidente da União de Freguesias de Carnaxide e Queijas, Inigo Pereira, disse aos jornalistas junto à rotunda da Rua Ferreira Lapa, onde ainda se encontra uma outra viatura ligeira completamente destruída pelo fogo, que os desacatos ocorridos na Portela de Carnaxide e no bairro dos Barronhos foi "um contágio" do sucedido no Zambujal.

"Todos compreendemos a revolta das pessoas sobre o que aconteceu, mas esta não é a forma correta de demonstrar o seu desagrado. Estes bairros de Oeiras são tranquilos, onde as pessoas têm boa convivência entre elas", disse o autarca, lembrando não "haver grandes ocorrências".

Apesar de reconhecer a existência de vandalismo na noite de terça-feira no bairro da Portela, Inigo Pereira, disse que os desacatos surpreenderam na medida em que são bairros tranquilos, e que a maioria dos moradores são trabalhadores que "saem pela manhã e regressam ao final da noite".

Questionado sobre o aumento de incidentes, sobretudo no bairro da Portela, o presidente da junta frisou não ter essa indicação, lembrando que, desde há cerca de um ano e meio, quando a Câmara Municipal de Oeiras reduziu o horário dos estabelecimentos comerciais, os desacatos que havia também diminuíram.

"Há algumas situações de pessoas que não trabalham e passam tempo nas ruas e nos cafés e causam alguns desacatos, mas Oeiras reduziu os horários e as coisas melhoraram", admitiu.

De acordo com o responsável, os desacatos não causaram feridos, nem danos em habitações, apenas nas viaturas incendiadas, contentores do lixo, ecopontos e uma viatura da comunicação social vandalizada.

O autocarro incendiado na noite de terça-feira no bairro da Portela era da empresa municipal de Lisboa Carris e ficou "completamente destruído", indicou à Lusa fonte da empresa, indicando que está em articulação com as autoridades policias, inclusive com a Polícia Judiciária, para averiguação do que aconteceu.

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