No final do fórum empresarial luso-espanhol, Luís Montenegro falou aos jornalistas sobre os desacatos dos últimos dias em alguns bairros da grande Lisboa e foi questionado sobre a atuação da polícia na morte de Odair Moniz, de 43 anos, que foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas. Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.
"Nós partimos do princípio no Governo de que todos os elementos das nossas forças e serviços de segurança atuam dentro de um critério de razoabilidade e de legalidade. Este é o nosso princípio. Agora dizer isto não significa que os agentes das forças e serviços de segurança não estejam também sob escrutínio, com certeza que estão. No mais, nesta circunstância em particular, ocorreu uma morte, houve uma vida que se perdeu", disse.
Por isso, justificou a abertura do inquérito para assegurar que a atuação da polícia "se enquadrou precisamente nesse juízo de razoabilidade e de legalidade".
"Não sou eu que vai agora decretar aquilo que o inquérito tem de apurar. Vamos aguardar com serenidade (...) Não vale a pena estarem a pedir-nos que tomemos uma posição sobre uma matéria que está em investigação, porque isso é, aliás, contrariar o princípio da investigação", disse.
"Naturalmente, se houver algum excesso por parte de algum servidor do Estado, terá de ser registado, anotado e corrigido", acrescentou.
Segundo a PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e "entrou em despiste" na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria a isenta" para apurar "todas as responsabilidades", considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
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