"Eu não vou perder mandato nenhum e vou levar o mandato até ao fim. E não vou poder candidatar-me de novo porque estou no limite de mandatos. Mas depois de toda esta experiência, se pudesse candidatar-me, punha a maior das dúvidas sobre candidatar-me", disse hoje aos jornalistas no final da reunião do Conselho Metropolitano do Porto, ao qual preside.
Eduardo Vítor Rodrigues (PS) reagia assim à manutenção, pelo Tribunal da Relação do Porto (TRP), da condenação a perda de mandato de presidente da câmara, que confirmou na quinta-feira à Lusa.
Em novembro de 2023, Eduardo Vítor Rodrigues foi condenado pelo tribunal de primeira instância por um crime de peculato de uso, à perda de mandato e ao pagamento de uma multa de 8.400 euros por usar, de forma pessoal, um veículo elétrico do município, condenando também a mulher do autarca pelo mesmo crime ao pagamento de uma multa no mesmo valor, 8.400 euros, tendo os dois arguidos recorrido para o TRP.
Segundo o autarca, o recurso foi parcialmente aceite. "Iliba a minha mulher, tira a multa, mas mantém perda de mandato. Vou recorrer", disse numa mensagem à Lusa.
Manifestando hoje confiança no desfecho do seu caso, Eduardo Vítor Rodrigues lembrou que já foi julgado "por uma alegada utilização abusiva de um selo dos correios" e questionou a proporcionalidade da pena relativamente aos factos que lhe são imputados.
"Mesmo que, por alguma razão, eu tivesse ido à padaria com o carro da câmara, alguém no seu perfeito juízo acha que isto tem que dar origem a uma perda de mandato?", questionou.
O autarca de Gaia e presidente da Área Metropolitana do Porto disse "que há um conjunto de coincidências" que o fazem "perguntar porque é que isto acontece", já que, "numa revisão de um recurso, que está tão claro e tão bem feito, tudo é 'limpo', exceto a perda de mandato".
"Isto é uma resposta a quem? Isto signfica o quê? É para agradar a quem? Será que os cidadãos lá fora ficam contentes por ver uma 'lata de atum' dar origem a uma 'cadeira elétrica', e quem rouba milhões andar aí a circular?", exemplificou.
Lembrando que não é alvo de "nenhum tipo de processo que tenha que ver com fraude, corrupção, roubo", recordou ainda que, "no mesmo dia em que lançaram o processo Babel, que visou o vice-presidente da Câmara [Patrocínio Azevedo]", foi associado a "um processo que não tinha nada a ver com aquilo".
Eduardo Vítor Rodrigues questionou assim "o que se passa na região", face à proliferação de casos entretanto arquivados, como o Selminho, envolvendo o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, ou o da escolha da chefe de gabinete da presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, ou outros ainda sem desfecho conhecido, como o da Maia ou Santo Tirso.
Questionado sobre se há alguma perseguição, vincou que "não disse nada disso", mas que apenas elencou "factos" e "agora cada um deve tirar as suas conclusões".
Já sobre as acusações do PSD/Gaia, que considerou que Eduardo Vítor Rodrigues não tem condições para continuar no cargo, o autarca disse que reagiria "quando o PSD reagir à situação da Maia", em que o autarca social-democrata António Silva Tiago também está a ser julgado por peculato.
"Toda a gente sabe que em Vila Nova de Gaia, durante anos, foi um regabofe. De todos os pontos de vista. Nunca aconteceu nada", acusou, considerando que a atual situação "dá para fazer telenovelas, dá para o PSD se entreter, confundiram Gaia e Maia".
Em face de eventos como o seu, Eduardo Vítor Rodrigues considera natural que "aqueles que poderiam trazer um 'apport' [contribuição] à política não quererem", vaticinando que um dia "serão os piores a gerir isto tudo, porque são aqueles que não se importam que lhes chamem corruptos, porque já são".
"É até ao dia em que, como diz o doutor Rui Rio, deixamos de dizer basta e passamos a dizer Chega", concluiu adiante.
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