Nos últimos dias o INEM tem estado num autêntico estado de emergência. Pelo menos 11 pessoas morreram por alegada falta de assistência, durante a greve dos trabalhadores.
A partir daí foi uma enxurrada de acusações e revelações que estão a levar os portugueses a questionar a prestação de um dos institutos em que mais confiavam.
Para já, ninguém foi responsabilizado, mas o Presidente da República já sublinhou que "doa a quem doer" as responsabilidades "administrativas e políticas" têm de ser apuradas.
Ontem, quinta-feira, 14 de novembro voltaram a existir falhas. Desta vez do sistema informático. O INEM garantiu que o socorro aos doentes não esteve comprometido. Já os trabalhadores do instituto tiveram, mais uma vez, de dar o corpo às balas.
Durante duas horas e meia, os técnicos de emergência pré-hospitalar tiveram de recorrer ao registo manual dos dados das chamadas e ativar os meios de socorro por telefone, como faziam antigamente, o que aumentou o tempo de espera das chamadas de 20 para 60 segundos.
Troca de acusações
Desde que as primeiras mortes (ocorridas durante ou na sequência da greve dos trabalhadores do INEM) foram divulgadas que os partidos da oposição pedem o apuramento de responsabilidades e até a demissão da ministra da Saúde.
O Governo de Luís Montenegro, por sua vez, aponta o dedo ao antigo Executivo. Na terça-feira, Ana Paula Martins acusou o anterior Governo do PS de desinvestimento no instituto, acusação esta reforçada, na quinta-feira, pelo ministro da Presidência.
De acordo com Leitão Amaro, o Executivo de António Costa não investiu no INEM a verba de 48 milhões de euros que resultou das receitas dos últimos dos anos do instituto.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, tem preferido ser parco em palavras sobre o assunto. Na quinta-feira, disse apenas que o Governo pretende apresentar em breve plano para resolver os problemas no INEM. Sobre as palavras de Marcelo, não quis reagir.
Mas a troca de acusações não é só entre Governo e oposição. O Presidente do INEM e o sindicato também estão em desacordo sobre o cumprimento dos serviços mínimos durante a greve dos trabalhadores.
O presidente do instituto, Sérgio Janeiro, assume que não foi possível cumprir os serviços mínimos durante a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar e admite a hipótese de processos disciplinares contra trabalhadores que tenham falhado. Já o sindicato disse que, ao contrário do que acontece sempre que há greves, desta vez o INEM não identificou nominalmente os trabalhadores que estariam obrigados a cumprir os serviços mínimos, falando no procedimento.
Apuramento de responsabilidades para quando?
Além de Marcelo Rebelo de Sousa (e da oposição), muitas outras personalidades também já pediram o apuramento de responsabilidades.
Ana Paula Martins já disse que "não foge". E, segundo o Expresso, essa é mesmo a vontade do primeiro-ministro, Luís Montenegro. A existir saídas, a ministra da Saúde não será uma delas. A secretária de Estado, Cristina Vaz Tomé, que ficou sem tutela do INEM e o presidente do instituto serão os "elos mais fracos e os que podem cair se o problema persistir".
Para já, o Parlamento aprovou a audição de Sérgio Janeiro "com carácter de urgência", o que pode acontecer já no próximo dia 21 de novembro.
Quem também já reagiu foi a provedora de Justiça, que considera urgente analisar o que está a correr mal no sistema de socorro e pede que se apure o que aconteceu quanto aos atrasos do INEM para que, se for o caso, o Estado pagar indemnizações.
Já o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, realçou que os problemas no INEM "não nasceram esta semana, nem na semana passada" e mostra-se preocupado com a atual situação do instituto.
"A Ordem dos Médicos está preocupada" e quer também "apresentar soluções muito concretas ao Ministério da Saúde para ajudar a virar esta página".
Futuro do INEM
O jornal Expresso avança esta sexta-feira que o futuro do INEM pode passar por ficar apenas com o socorro aos casos mais graves, subindo "o nível de diferenciação dos elementos dos bombeiros e da Cruz Vermelha que asseguram o socorro".
Enquanto essa formação não estiver terminada, poderão criar-se equipas mistas.
Outra das mudanças tem a ver com a preparação dos profissionais que estão nas ambulâncias e no atendimento das chamadas do 112, até agora apenas a cargo do INEM.
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