Gondomar. Vítimas dos fogos entre os destroços e a burocracia dos apoios

Dois meses passados dos incêndios em Gondomar, Ruben Rodrigues desconhece se vai receber os 500 mil euros de prejuízo tal como José Santos os 100 mil reclamados, estimando o presidente da câmara que chegue só em março.

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Lusa
16/11/2024 06:08 ‧ 16/11/2024 por Lusa

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Incêndios

As marcas da tragédia que assolou várias freguesias do alto concelho de Gondomar, no distrito do Porto, entre 15 e 20 de setembro, continuam visíveis no terreno, coexistindo com a ansiedade dos proprietários que anseiam pela falta de notícias sobre a possibilidade de indemnização.

 

Na Foz do Sousa, o incêndio que chegou no dia 17 reduziu a escombros uma oficina automóvel e queimou total ou parcialmente 30 viaturas. Nessa manhã, reagindo às projeções das chamas provenientes do terreno vizinho, Ruben Rodrigues, dois funcionários e amigos salvaram 13 carros.

"Dois meses depois, está tudo igual, não há ajudas", resumiu o proprietário na conversa com a Lusa junto às chapas retorcidas da oficina criada há dois anos e com seguro de paredes, relatando que, em devido tempo, entregou o relatório dos prejuízos que, estima, "rondam os 500 mil euros".

Sobre os dois funcionários da oficina disse "manter o vínculo com eles" pois "não quer deixá-los na mão", assegurando estar "apenas à espera de uma resposta para se começar a reerguer".

"Espero que entre o final deste ano e janeiro do próximo me consigam dizer alguma coisa [sobre o relatório dos prejuízos apresentado]", desejou Ruben Rodrigues sem conseguir esconder o ar abatido.

Na freguesia de Jovim, a Lusa encontrou José Santos a vaguear pelos escombros da sua outrora oficina de móveis. O incêndio, contou, chegou na tarde de 16 de setembro e tudo mudou na sua propriedade e zona envolvente.

"Isto estava cheio de eucaliptos, agora é que os cortaram. É um terreno privado que não estava limpo. Eles preferem pagar a multa a limpar. São pessoas muito ricas, quase donos de Gondomar", acusou, revoltado.

Da sua oficina de 50x20 metros quadrados, apontou, não restou nada.

"Eu fui levado pela GNR. Meteram-me no carro, nem vi a arder. Quando voltei estava tudo no chão", contou o dono do espaço, apontando para o local onde tinha "muita matéria-prima (...) placas para fazer os móveis e contraplacado" e para as paredes destruídas da oficina "derrubadas pela Proteção Civil de Gondomar".

José Santos não para de falar enquanto caminha sobre as telhas partidas em direção às máquinas e ferramentas queimadas e já assaltadas pela ferrugem: "para pôr isto como estava, 100 mil euros não devem chegar", respondeu, a custo, quando questionado sobre o volume dos prejuízos.

Em Branzelo, o recorte, ao longe, da capela centenária da Nossa Senhora da Aflição destaca-se numa paisagem negra de árvores queimadas, no cimo da encosta acima de Melres.

Atingida pelas chamadas de 16 para 17 de setembro, que lhe causaram "danos totais", a capela só de longe pode ser vista, explicou à Lusa o vizinho Altino Rocha, que enfatizou o período de derrocada que ameaça desde então o edifício privado.

"O proprietário foi aconselhado a vedar a envolvente da capela, porque as paredes têm brechas bastante acentuadas. Foi também fechado o acesso ao terreno adjacente para evitar a curiosidade das pessoas, inclusive as árvores estão também em risco de queda", contou.

Questionado sobre o valor estimado dos prejuízos materiais, respondeu sobre o "valor histórico e cultural que representa": "sei que a proprietária tem feito os contactos e o que lhe tem sido pedido e esperamos que chegue a bom porto e capela seja reerguida", disse.

O presidente da Câmara de Gondomar, Marco Martins, reunidos os relatórios dos prejuízos, revelou rondarem os 9,6 milhões de euros, sendo que "foram disponibilizados os apoios de seis mil euros para os agricultores, que era o apoio único que podiam pedir, para quem tinha produção agrícola ou alfaias agrícolas".

"Falta sair o aviso para as áreas florestais, para que as pessoas possam concorrer, e saiu na semana passada o aviso para os danos ou prejuízos em empresas ou primeira habitação. Essa candidatura decorre até 31 de dezembro", disse o autarca.

Questionado sobre quando os particulares e empresas poderão ser indemnizados, Marco Martins precisou que, fechando a candidatura em dezembro, feita a análise em janeiro para que em fevereiro possa haver decisões de aprovação, ou não, das candidaturas, em março os apoios poderão ser pagos, embora tal dependa do Governo.

Leia Também: Área ardida de mais de 136 mil ha foi a terceira maior na década

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