"Por muito que haja círculos norte-americanos -- e eles existem -- que pensam que é compensador sacrificar a União Europeia, por questões de afirmação da economia americana, ou por jogadas táticas momentâneas para resolver os conflitos internacionais, é um erro", afirmou o chefe de Estado, na Academia Militar, na Amadora, no distrito de Lisboa.
Marcelo Rebelo de Sousa, que falava a propósito da futura administração norte-americana presidida por Donald Trump, acrescentou: "De cada vez que os Estados Unidos da América minimizam a relação transatlântica, pagam esse erro mais tarde, e com um custo acrescido: têm de pagar guerras, têm de pagar reconstruções, têm de pagar realidades que pensam que estão ultrapassadas, virados que se encontram para o Pacífico".
"A geografia tem essa limitação: a Europa está onde está, os Estados Unidos da América estão onde estão e, portanto, por muito importante seja o Pacífico, o Atlântico também o é", sustentou o Presidente da República, que discursava na sessão de enceramento de um congresso da Associação de Auditores dos Cursos de Defesa Nacional (AACDN).
Neste encontro sobre "A Segurança e a Defesa na Europa -- Desafios", Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que a União Europeia tem de reforçar "a autonomia estratégica e peso na segurança e defesa", mas para esse investimento precisa do "apoio das opiniões públicas", o que "só é possível havendo crescimento económico".
"É difícil explicar prioridade tão importante quanto a prioridade política de segurança e de defesa em sociedades com crises económicas, com falta de retoma, com desigualdades acentuadas, com sistemas ultrapassados e, portanto, com lideranças fracas", argumentou.
O Presidente da República antecipou que, neste início de "novo ciclo de lideranças", a União Europeia enfrentará o desafio de "manter e reforçar a sua unidade num contexto em que vai haver muitas solicitações para posições originais", cabendo-lhe "salvaguardar sempre o eixo transatlântico".
"Tudo isto junto poderá ser mais complexo se os Estados Unidos da América falharem à Europa, ao menos em parte, porque dificultaria a gestão da frente ucraniana e dificultaria a existência urgente de uma voz única da Europa, que ainda não existe, quanto ao Médio e Próximo Oriente", considerou.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, "escusado será dizer que é do interesse norte-americano a relação transatlântica, não é só do interesse europeu", e tanto "Estados Unidos da América e União Europeia sairão mais fortes ou mais fracos deste momento de transição de ciclo conforme a nova administração norte-americana decidir ser mais ou menos favorável à convergência transatlântica".
Na sua opinião, na anterior administração de Donald Trump, "há oito anos, não vingou uma orientação propícia à convergência".
"Desta feita, o que muitos, desde logo na Europa, mas também nos Estados Unidos da América, desejam é que ela triunfe, politicamente e economicamente. Quanto à Federação Rússia e à China, ganharão com tudo o que enfraqueça o eixo transatlântico e perderão com tudo o que o reforce", acrescentou.
No quadro europeu, o chefe de Estado vincou a importância de se "assegurar a retoma económica, que não apareceu ainda em economias e sociedades fundamentais".
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, para isso, há que "colmatar o atraso científico e tecnológico" da União Europeia, que "ficou para trás" em relação aos Estados Unidos da América, à China, à Índia e a outros países asiáticos "nos últimos cinco a dez anos".
"Sem esse investimento não há a produtividade, não há a capacidade de competição, não há crescimento. Criar, com base nisso tudo, a autonomia estratégica e peso na segurança e defesa", resumiu.
[Notícia atualizada às 17h11]
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