"Mantemos a posição em relação à comissão parlamentar de inquérito. Só assim vamos conseguir perceber a origem do problema", disse o presidente da Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM), Paulo Paço, que foi hoje ouvido na comissão parlamentar de Saúde.
Em declarações aos deputados sobre o sistema de triagem, o responsável deu o exemplo do sistema aplicado no Reino Unido e insistiu que o tempo deve começar a contar desde que a pessoa liga para a linha de emergência e não quando o meio é enviado.
Apontando o exemplo do Reino Unido, disse que o sistema de resposta aplica os sete minutos de resposta aos casos de perigo de vida imediato, 18 minutos a situações emergentes como o enfarte do miocárdio ou o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Segundo explicou, este sistema integra ainda dois outros tempos de resposta, desde a chamada até a chegada do meio ao local: 120 minutos para situações como dores abdominais que podem ser tratadas pelos paramédicos, que medicam e prescrevem medicação, e 180 minutos para casos que, na maior parte, acabam referenciados para centros de saúde.
Paulo Paço considerou que a situação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) é "demasiado grave" e que o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) não pode continuar a funcionar com os mesmos protocolos de triagem.
"A contagem do tempo de resposta não pode ser a partir do acionamento do meio. Muitas vezes, estes meios levam eternidades para serem acionados e não se pode, ao fim de 20 ou 30 minutos, colocar o cronómetro no zero", afirmou.
Defendeu que a métrica deve começar a partir do momento em que o cidadão liga para o 112 e chamou ainda a atenção para a importância de passar a auditar todo o impacto que o serviço teve no doente, desde que foi socorrido até à saída do hospital, inclusive as sequelas com que fica.
"Tudo tem de ser medido e auditado cientificamente, que é algo que não se faz em Portugal", acrescentou.
Paulo Paço disse acreditar que a profissão de paramédico é "o expoente máximo" do serviço de emergência médica funcional e rejeitou que seja visto como uma evolução do técnico de emergência pré-hospitalar.
"No Reino Unido são duas profissões distintas: a carreira do técnico é uma é a do paramédico outra, com uma grelha salarial separada e uma prática mais avançada", explicou.
Sobre a 'refundação' do INEM que a ministra da Saúde disse ser necessária, o responsável da ANTEM reconheceu que o instituto "precisa de ser reestruturado" e lembrou que existem modelos a funcionar no mundo inteiro que podem servir de exemplo.
"Temos agora oportunidade de resolver os problemas na nossa realidade. Espero que as mortes, se se comprovarem que estiveram relacionadas com o mau funcionamento do INEM, não tenham sido em vão", concluiu.
Além de sete inquéritos em curso pelo Ministério Público, as 11 mortes alegadamente provocadas por falhas no socorro por parte do INEM motivaram a abertura de um inquérito pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
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