Os alarmes soaram esta segunda-feira em Portugal, depois de uma associação vir alertar para o risco de invasão da vespa soror, uma espécie invasora oriunda da Ásia que já foi encontrada nas Astúrias, em Espanha. Mas que espécie é esta e o que se sabe?
Tudo começou quando a Associação Apícola de Entre Minho e Lima (APIMIL) apelou às autoridades nacionais para que tomem "ações concretas e bem dirigidas" contra a ameaça de invasão de uma nova vespa, mais perigosa do que a asiática.
O presidente da APIMIL, Alberto Dias, referiu que, apesar de não haver registo da presença da vespa soror em Portugal, "a proximidade" do Alto Minho com a Galiza, onde a espécie também ainda não foi detetada, "deve fazer acender as luzes vermelhas e tocar as campainhas", para não se repetir a "praga" da vespa asiática.
De notar que um estudo realizado por investigadores da Universidade de Oviedo, nas Astúrias, identificou naquela província do Norte de Espanha quatro exemplares da vespa soror, que entrou na Europa, por França, em 2004.
O estudo, cujas conclusões foram divulgadas, no início do mês, na revista Ecologia e Evolução, permitiu detetar, entre março de 2022 e outubro de 2023 quatro vespas soror obreiras que terão chegado à região como "passageiras" em contentores de transporte de mercadorias.
A sua entrada na região terá sido facilitada porque as rainhas fertilizadas passam parte do ano, sobretudo durante condições meteorológicas adversas, escondidas, usando como abrigo algum material ou recipiente que os humanos podem transportar despercebidos para longe da localidade original desta espécie, as regiões mais quentes da Ásia.
Portugal sem registo de presença da vespa soror
No entanto, o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) confirmou que, até à data, não foi detetada a presença de vespa soror em Portugal.
Em resposta, por escrito, a um pedido de esclarecimentos da agência Lusa a propósito do estudo anteriormente referido, o ICNF adianta estar a fazer "uma vigilância ativa, definida no Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da vespa velutina [também conhecida como vespa asiática] em Portugal".
Segundo o ICNF, através daquele plano "é ainda possível fazer vigilância preventiva na deteção de outras espécies de grandes vespas, como é o caso da vespa soror".
O ICNF garante estar "atento ao potencial aparecimento desta espécie em território nacional e está já a alertar as entidades municipais para o eventual aparecimento desta espécie, bem como da vespa orientalis, cuja presença está a aumentar no sul de Espanha".
O instituto pede que, em caso de observação de vespa soror ou da vespa orientalis, a mesma seja reportada para o endereço eletrónico [email protected].
Como é esta vespa?
De acordo com o estudo, esta vespa apresenta "uma coloração peculiar", sendo que "ambos os sexos são tricolores, com áreas pretas, castanho-escuro, castanho-claro e amarelas".
A espécie possui uma cabeça "excecionalmente grande" e "é um predador agressivo que caça invertebrados de vários tamanhos, incluindo borboletas, libélulas, louva-a-deus e gafanhotos, bem como outras vespas e até mesmo pequenos vertebrados como lagartixas".
As vespas soror obreiras medem 35 milímetros(mm) e as rainhas 46 mm. Já as soror comuns não chegam a 10 mm.
A vespa soror "pode gerar problemas no setor de saúde, pois a picada é muito dolorosa e produz efeitos duradouros, provavelmente por ter um veneno potente".
"Os nossos resultados preliminares levantam preocupações sobre a ameaça potencial da vespa soror na saúde humana e na dinâmica do ecossistema, pois é uma espécie altamente predadora de outros insetos e até mesmo de pequenos vertebrados", assinalam os investigadores da universidade de Oviedo.
O estudo sublinha que "a presença da vespa soror na região Norte da Península Ibérica, onde a invasora vespa velutina é disseminada, pode ter um efeito cumulativo aumentado e até mesmo de saúde pública já desencadeados pela vespa velutina".
A maioria das colónias desta espécie "é encontrada em áreas florestais, em altitudes que variam do nível do mar a mais de 700 metros de altitude".
O ninho "geralmente está localizado no subsolo, frequentemente bem drenado de uma encosta, com o buraco de entrada cavado para baixo na superfície do solo, e frequentemente localizado entre raízes de grandes árvores".
"Alguns ninhos ficam bem próximos da superfície, apenas alguns centímetros abaixo do solo, mas outros ficam bem no subsolo, com um ou mais túneis que podem ter 60 centímetros ou mais de comprimento, entre o ninho e a entrada", adianta a investigação.
A vespa asiática, recorde-se, entrou na Europa através do porto de Bordéus, em França, em 2004 e chegou a Portugal, a partir do Alto Minho, em 2011.
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