Segundo o barómetro da imigração, um inquérito da Fundação Francisco Manuel dos Santos hoje divulgado dois terços dos portugueses querem menos imigrantes provenientes do subcontinente indiano, consideram a política de imigração demasiado permissiva e acusam os imigrantes de contribuírem para mais criminalidade.
Mas segundo o mesmo inquérito, divulgado por ocasião do Dia Internacional das Migrações, que se celebra quarta-feira, dois terços dos inquiridos consideram que os imigrantes são importantes para a economia.
"Nós fizemos [o inquérito] no país todo e a conclusão é que os imigrantes são positivos para a sociedade e para a economia portuguesa, mas... E este 'mas' é aquilo que deve liderar as políticas públicas que têm que ser desenhadas", disse Pedro Góis à Lusa.
O investigador, que foi um dos autores do inquérito antes de tomar posse como diretor científico do Observatório das Migrações, defendeu "mais cuidado na seleção dos migrantes, na entrada do país, nos processos de regularização".
"Há aqui uma certa ambiguidade nas respostas, mas o que nos parece importante é que, de facto, dois terços dos portugueses percebem a importância da imigração para o país e esse é um dado absolutamente relevante, porque precisamos de imigrantes e, portanto, é bom que esta necessidade vá ao encontro também da perceção que a população tem da imigração", acrescentou.
Foram feitas 1.072 entrevistas entre junho e agosto, num momento em que estava a ser implementado o fim das manifestações de interesse, um recurso jurídico que permitia a um estrangeiro legalizar-se em Portugal, desde que tivesse um contrato de trabalho, morada e descontos durante um mínimo de 12 meses.
"[O que] os inquéritos nos dizem é que queremos que [os imigrantes] venham, mas que venham de uma forma regulada, e não que venham de forma independente", o que "vai ao encontro" da atual "política da procura de vistos de trabalho, de vistas de procura de trabalho no país de origem", após o fim das manifestações de interesse.
Foi feita pela primeira vez uma avaliação da perceção sobre os imigrantes do subcontinente indiano e dois terços dos portugueses defendem uma diminuição, o que mostra "um sentimento de desconfiança muito nítido", salientou Pedro Góis, por comparação com a "preferência em relação aos imigrantes dos países ocidentais".
Há também um "decrescimento da desconfiança em relação aos grupos tradicionais de imigração para Portugal", como África e Brasil, zonas mais próximas do ponto de vista cultural.
Sobre a reação dos portugueses aos imigrantes do Nepal, Bangladesh e Índia, Pedro Góis resume: "Estranhamo-los muito e conhecemo-los muito pouco".
A sondagem foi feita a nível nacional e abrangeu pessoas que "não convivem com imigrantes" e corresponde a uma avaliação global do sentimento.
"Se nós fizéssemos isto em alguns locais específicos de grande concentração de imigrantes, provavelmente teríamos outro tipo de respostas", reconheceu.
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