A representante da associação Renovar a Mouraria, que falou em nome dos mais de 600 subscritores da queixa entregue na provedora de Justiça, explicou aos jornalistas que os resultados da ação policial do dia 19 de dezembro justificam que haja uma reflexão.
Segundo Filipa Bolotinha, a queixa entregue na provedora de Justiça visa pedir a Maria Lúcia Amaral que, no âmbito das suas competências, avalie a legitimidade e proporcionalidade da ação policial e elabore um parecer.
Os signatários querem também que a queixa na Inspeção-geral da Administração Interna (IGAI) "siga o seu processo o mais rapidamente possível" para que o assunto "não seja esquecido à velocidade do próximo furo mediático".
"A rua do Benformoso é uma rua de pessoas reais que vivem e trabalham lá. E não foi só no dia 19 de dezembro que houve uma ação discriminatória e um atentado à sua dignidade e ao seu bem-estar", apontou Filipa Bolotinha.
A representante da associação Renovar a Mouraria disse que o coletivo de cidadãos e associações espera que a ação da provedora de Justiça possa alterar "talvez o pensamento" de quem é responsável não só nas autoridades policiais, mas também do discurso político.
"Nós não podemos ter num dia os telejornais a dizer que Portugal precisa de 130.000 trabalhadores imigrantes e no dia a seguir, um discurso em que associam a imigração à insegurança, o que é falso, como se viu pelos resultados da operação", criticou.
Filipa Bolotinha disse ainda ter tido conhecimento de que nenhum cidadão português foi mandado parar pela polícia no decorrer da ação.
O presidente da Casa da Índia salientou que "para qualquer democracia há duas coisas que são muito importantes: dignidade humana e respeito pelos direitos humanos", apontando que ambas "foram gravemente violadas" no decorrer da ação policial.
"Todas as pessoas que foram encostadas à parede vão ficar com esta imagem para a vida toda. Este trauma vai ficar no pensamento daquelas pessoas para a vida toda e isso é inadmissível", apontou Shiv Kumar Singh, para quem esta é uma situação que as democracias não podem permitir que aconteça.
Disse também ter conhecimento de casos de imigrantes, particularmente asiáticos, que estarão agora a evitar circular naquela zona da cidade de Lisboa, pelo medo de a qualquer momento serem alvo de uma rusga policial.
Shiv Kumar Singh defendeu que também os imigrantes são a favor de um país mais seguro, apontando que o sentimento de insegurança não afeta só os nacionais, mas também os estrangeiros, já que os imigrantes muitas vezes não sabem como defender-se, não conhecem a legislação e tem dificuldades na compreensão da língua.
Para a representante da Casa do Brasil, a queixa entregue na provedora de Justiça tem como objetivo "passar uma mensagem clara de que a sociedade civil está vigilante relativamente à tentativa de criminalização da imigração e de tornar as pessoas imigrantes um inimigo".
"Uma imagem com as pessoas encostadas à parede é completamente vexatória e é uma imagem que nós não podemos admitir num país democrático que passou por uma ditadura, cujo dia mais importante é o 25 de Abril", defendeu Ana Paula Costa.
Na opinião da responsável, o país está a viver um "contexto muito complexo e difícil", com a crise na habitação ou o aumento do custo de vida, e "o Estado social está a falhar para a sociedade portuguesa de uma forma geral".
[Notícia atualizada às 12h39]
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