Drogaria com 75 anos na Covilhã é portal para o passado e novidades

Enquanto cresceu, João Paulo Pereira, 57 anos, não se imaginava a continuar o negócio do pai, mas o entusiasmo com que tem preservado "a essência" da Drogaria Moderna, fundada há 75 anos, tornaram-na a primeira Loja com História da Covilhã.

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© Drogaria Moderna/Facebook

Lusa
24/01/2025 09:28 ‧ há 5 horas por Lusa

Economia

Covilhã

A distinção foi atribuída este mês e João Paulo, há 27 anos atrás do balcão, olhar azul, sorriso aberto, avental posto e rodeado por muitos objetos outrora ferramentas imprescindíveis de trabalho, que hoje adornam e ajudam a dar um ambiente de época, considera o selo atribuído pelo município um reconhecimento da vontade de abraçar a memória e manter mobiliário, equipamento original e produtos que caíram em desuso, enquanto está atento e acolhe as novas tendências.

 

A argamassa da Drogaria Moderna, no centro da Covilhã, no distrito de Castelo Branco, é feita com os sedimentos de um passado de que o proprietário se orgulha e da vontade de rasgar caminhos; do balcão em mármore e do balcão digital, criado há 12 anos, que representa já mais de metade da faturação, e que o ajudou a fintar a pandemia e a estar um passo à frente.

"Eu apanhei o comboio do tecnológico e do digital", sublinha o empresário, que cria os próprios conteúdos com que alimenta as redes sociais, faz vídeos a explicar como seguir em casa fórmulas e realiza diretos com recurso a múltiplas câmaras. Numa altura de declínio do comércio tradicional, essa facilidade fê-lo "crescer na loja física e no 'online'".

Na loja, onde as montras chamam a atenção pela originalidade e mudança constante, continua a vender-se o restaurador Olex, a pasta dentífrica Couto, os sabonetes Confiança e Ach Brito e muitos produtos a granel, expostos em frascos de vidro de laboratório, ao lado de muitas marcas novas que foram aparecendo e dos produtos de muitos negócios locais a que João Pereira se associa.

O sistema de iluminação em que o proprietário apostou aviva as robustas prateleiras castanhas em madeira maciça que sustentam histórias em forma dos mais diferentes artigos e rótulos que são sussurros de um outro tempo, mas também novas formas de apresentar produtos de sempre que continuam a ter saída e as exigências atuais levaram a criar caixas com diferentes gramagens, como acontece com o muito procurado açafrão, indispensável para o tradicional pastel de molho da Covilhã.

Esta é a profissão e um dos passatempos de João Paulo, que aproveita os materiais em laboratório, o gosto em trabalhar madeiras e os conhecimentos para fazer retoques na loja, remover aplicações que foram vistas como modernidade e repor o original.

A Drogaria Moderna é um espaço onde história e inovação coexistem. A tradição do cuidado e do saber foi polida pelas exigências e comodidades da modernidade, sem descaracterizar.

Na loja, o pesado telefone preto de disco continua a funcionar, ao lado da volumosa lista telefónica de 1953 com os contactos de Portugal e das antigas colónias, o caderno preto, com folhas amarelecidas, das diferentes fórmulas que o pai preparava no estabelecimento, e que aprendeu quando era ajudante de farmácia, também está exposto, tal como a máquina de escrever, a registadora National, agora apenas decorativa, ou a miríade de equipamento de laboratório.

João Paulo quer manter o lugar com alma e uma "loja de charme", onde se cruzam os clientes de sempre com jovens que fogem da massificação e têm preocupações ambientais, ou procuram as matérias-primas para fazerem em casa os seus artigos de cosmética, saboaria ou velas.

Honorato Berto, 77 anos, foi comprar cola para as suas bricolagens e recorda quando a Drogaria Moderna era "o hospital da rua". Basílio Nunes, 68 anos, trabalha em conservação e restauro e troca impressões com João Paulo sobre a melhor forma de conseguir o efeito exato pretendido, falam em fórmulas, ordem das misturas, quantidades, cuidados a ter, qual o produto mais indicado para levar a granel e preparar em casa.

"Eu aprendo muito com os clientes. É um vai e vem de conhecimento", sublinha o proprietário, que descobriu com bailarinas que a resina loura é passada nas pontas para não escorregarem.

Há jovens que encontram aqui a secção com novidades para cuidar da barba, quem entre à procura daquela essência em particular, quem venha comprar os detergentes ecológicos a granel ou universitários que procuram utilizar produtos naturais.

É o caso de Eugénia Santos, 44 anos. Estuda Biomedicina e "novas drogas à base de plantas". Com óleo de alecrim e óleo de rícino na mão, para hidratar o cabelo, descobriu na Drogaria Moderna produtos que a remetem para memórias dos avós e outros que dão resposta às suas necessidades.

O acervo documental, das fotos ao primeiro alvará, das balanças aos frascos alinhados com ceras ou pigmentos, geram curiosidade e entrar na drogaria é também uma experiência.

Os apontamentos de modernidade multiplicam-se, mas com subtileza, como o grande painel digital que o proprietário encaixou numa moldura que não destoa, feita pelo próprio.

Enquanto mantém a preocupação com a preservação da memória, João Pereira segura firmemente os fios da tradição, trama que sustenta a identidade do espaço, mas deixa que a modernidade entre como a urdidura, trazendo cores e texturas ao tecido da história.

Leia Também: Câmara da Covilhã suporta parte dos aumentos nos transportes

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