Estas bactérias podem mesmo neutralizar subprodutos tóxicos resultantes do processo, de acordo com uma investigação liderada pela Universidade de Buffalo (UB), com a colaboração da Universidade Católica Portuguesa e publicada na Science of the Total Environment.
Os PFAS são um grupo de produtos químicos omnipresentes que têm sido amplamente utilizados desde a década de 1950 em tudo, desde panelas antiaderentes a materiais de combate a incêndios. São considerados permanentes porque não se decompõem no ambiente, noticiou na sexta-feira pela agência Europa Press.
Os investigadores descobriram que a bactéria Labrys portucalensis F11 (F11) metabolizou mais de 90% do ácido perfluorooctanosulfónico (PFOS) após um período de exposição de 100 dias.
A estirpe bacteriana utilizada neste estudo, F11, foi isolada do solo de um local industrial contaminado em Portugal e já tinha demonstrado a sua capacidade de remover flúor de contaminantes farmacêuticos. No entanto, nunca tinha sido testado em PFAS.
Colaboradores da Universidade Católica Portuguesa colocaram F11 em frascos selados sem qualquer fonte de carbono para além de 10.000 microgramas por litro de PFAS.
Após períodos de incubação entre 100 e 194 dias, as amostras foram enviadas para a UB, onde a análise revelou que o F11 tinha degradado parte do PFAS.
Os níveis elevados de iões flúor detetados nestas amostras indicaram que o F11 tinha separado os átomos de flúor do PFAS para que as bactérias pudessem metabolizar os átomos de carbono.
"A ligação carbono-flúor é o que torna os PFAS tão difíceis de decompor, pelo que conseguir decompô-los é um passo crítico. Crucialmente, o F11 não só cortou os PFOS em pedaços mais pequenos, como também removeu o flúor desses pedaços mais pequenos", realçou a primeira autora do estudo, Mindula Wijayahena.
O PFOS é um dos tipos mais amplamente detetados e persistentes de substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas (PFAS) e foi designado como perigoso pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA no ano passado.
As bactérias F11 decompuseram também uma porção substancial de dois tipos adicionais de PFAS após 100 dias: 58% do ácido carboxílico fluorotelómero 5:3 e 21% do sulfonato fluorotelómero 6:2.
"A ligação entre os átomos de carbono e o flúor no PFAS é muito forte, pelo que a maioria dos micróbios não consegue utilizá-lo como fonte de energia. A estirpe bacteriana F11 desenvolveu a capacidade de cortar o flúor e comer o carbono", referiu, em comunicado, a também autora do estudo Diana Aga, professora do Departamento de Química da Universidade de Buffalo. Mindula Wijayahena é estudante de doutoramento no laboratório de Aga.
Ao contrário de muitos estudos anteriores sobre bactérias que degradam PFAS, o estudo de Aga teve em conta os produtos de degradação de cadeia mais curta, ou metabolitos. Em alguns casos, o F11 até removeu o flúor destes metabolitos ou conseguiu decompô-los em níveis minúsculos e indetetáveis.
Os PFAS estão longe de ser o alimento preferido de qualquer bactéria, mas algumas bactérias que vivem em solo contaminado sofreram mutações para decompor contaminantes orgânicos como os PFAS, para que possam utilizar o seu carbono como fonte de energia.
Embora as investigadoras da UB digam que o seu estudo é um bom começo, alertam que foram necessários 100 dias para que o F11 biodegradasse uma parte significativa do PFAS fornecido, e não havia outras fontes de carbono disponíveis para consumo.
Eventualmente, o F11 poderá ser implantado em água e solo contaminados com PFAS. Isto poderá envolver a criação de condições para o crescimento da estirpe dentro de lamas ativadas a uma temperatura de 100°C.
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