Mafalda Barreiro, que usa este transporte todos os dias, disse à agência Lusa que a situação está a tornar-se incomportável.
"Trabalho no Rossio [Lisboa] e isto está impossível. Hoje já estou aqui há uma hora e não consigo entrar nos comboios que passam porque já vão cheios", disse.
A demora de hoje, acrescentou, levou mesmo a sentir necessidade de pedir uma justificação para entregar no emprego.
"Isto é demais. Está a ficar incomportável e todos os dias há pessoas a sentirem-se mal nestas viagens porque nem se respira", frisou.
Luísa Marques, que aguardava também na plataforma, confirmou todas as observações feitas por Mafalda Barreiro e acrescentou: "Aqui está assim, no Pragal ainda está pior".
Questionadas sobre desde quando o serviço de transporte ferroviário que liga Setúbal a Lisboa tem registado estes constrangimentos, ambas afirmaram que há já algum tempo que "está complicado", mas desde dezembro, com as alterações de horário efetuadas pela empresa, a situação agudizou-se.
Amélia Mira, outra das utentes deste transporte, residente no Alto do Moinho (freguesia de Corroios), acabou por desistir do comboio e procurar chegar a Lisboa através do transporte fluvial em Cacilhas.
"Ultimamente tem sido o caos. Hoje vou desistir, porque na plataforma quase não se entra. Vou então apanhar o metro de superfície e procurar chegar a Lisboa usando os barcos de Cacilhas", disse, adiantando que chegou à estação às 08h50 e "foi manifestamente impossível entrar no comboio".
Na plataforma, muitas pessoas aguardam que um dos comboios possa chegar mais vazio, outras avançam e tentam entrar a todo o custo. Para fechar as portas não são raras as vezes que é necessária intervenção de funcionários da estação e, depois das portas fechadas, os passageiros vão colados às mesmas.
Até dezembro, a circulação de comboios da Fertagus entre as estações de Setúbal e de Lisboa (Roma-Areeiro) nos dias úteis era de 30 em 30 minutos, mas, a partir de 15 de dezembro do ano passado, passou a ser de 20 em 20 minutos.
O aumento da oferta do horário de transporte ferroviário entre Lisboa e Setúbal através da Ponte 25 de Abril foi anunciado em novembro pelo Ministério das Infraestruturas e Habitação, no âmbito do alargamento do contrato de concessão da Fertagus por seis anos e meio, até 31 março de 2031.
Desde dezembro, vários utentes do serviço ferroviário prestado pela Fertagus têm vindo a denunciar, nas redes sociais e em alertas dirigidos às câmaras municipais de Almada e do Seixal que os comboios que partem de Setúbal enchem rapidamente, deixando passageiros de fora.
As primeiras queixas tornadas públicas surgiram relativamente à estação do Pragal, no concelho de Almada, mas o cenário de multidões nas plataformas e de dificuldades em conseguir entrar nas composições porque já se encontrarem cheias tem sido também descrito por utentes que usam o serviço a partir das estações de Coina, Foros de Amora e Corroios (no concelho do Seixal).
Na quinta-feira, a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) pediu informações à Fertagus sobre a insatisfação dos passageiros com os novos horários dos comboios.
"A AMT solicitou informações sobre quais as medidas concretas que foram adotadas pela Fertagus para mitigar esta situação, designadamente ao nível da comunicação e informação prestada aos passageiros, bem como medidas que estejam a ser equacionadas para assegurar a adequação da oferta à procura em condições de segurança e qualidade", lê-se num comunicado divulgado pela AMT.
O pedido de informação urgente surgiu na sequência de protestos dos utentes, indicando a AMT que analisará a informação a ser prestada pela Fertagus e que, caso se justifique, agirá em conformidade no sentido de assegurar o cumprimento contratual e garantir os direitos dos passageiros.
Os autarcas de Almada e Seixal pediram também esclarecimentos à empresa, enquanto os deputados do PS e do PCP denunciaram a "degradação do serviço da Fertagus" devido à insuficiência de material circulante.
A ligação ferroviária entre Lisboa e a Margem Sul foi inaugurada em 29 de julho de 1999, com o objetivo de retirar carros da Ponte 25 de Abril.
A travessia liga as estações de Roma-Areeiro, em Lisboa, a Setúbal, e conta com 10 estações na Margem Sul e quatro na capital.
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