O deputado municipal do Chega Nuno Pardal Ribeiro foi acusado pelo Ministério Público de dois crimes de prostituição de menores e, posteriormente, anunciou que iria renunciar ao mandato na Assembleia Municipal de Lisboa, assim como da vice-presidência da distrital de Lisboa do partido.
Este caso particular acontece no partido com menos tolerância para crimes sexuais, tendo o seu líder, inclusive, afirmado ontem que mantém a sua "convicção de que um pedófilo ou abusador de menores deve ser quimicamente castrado", mesmo que se tratem de "amigos ou pessoas próximas".
No decorrer de quinta-feira, vieram a público mais informações sobre o caso que o envolve, noticiado primeiramente pelo Expresso, incluindo a troca de mensagens com um menor.
As conversas de Whatsapp entre Nuno Pardal e o menor
Nuno Pardal Ribeiro e o menor conheceram-se no Grindr, uma aplicação de encontros mais orientada para homossexuais, passando depois a comunicar por Whatsapp. O caso foi denunciado à Polícia Judiciária (PJ) pelos pais do menor depois de terem tido acesso às mensagens do Whatsapp no telemóvel do filho.
A primeira troca de mensagens, de acordo com a SIC Notícias, ocorreu a 11 de julho de 2023, quando o dirigente do Chega disse: "Gostava de saber o que já experimentaste sexualmente". O jovem respondeu apenas: "Ainda não fiz sexo".
"Nunca estiveste com nenhum 'daddy'?", questionou Nuno Pardal, usando um termo para descrever homens mais velhos. O menor respondeu que "já" e o deputado questiona "que idade tinha". No entanto, o jovem, por pensar que Nuno Pardal se referia a ele, respondeu "16".
Após esta troca de mensagens, o dirigente do Chega pediu ao menor que lhe enviasse imagens íntimas, combinando um encontro. Encontro esse que aconteceu junto a uma estação de comboios e depois os dois seguiram no carro do homem em direção a um pinhal. Durante o trajeto, segundo a acusação, o conselheiro nacional do Chega perguntou ao rapaz que idade tinha e este respondeu 15.
Nuno Pardal pagou o encontro sexual através de um código da aplicação MB Way no valor de 20 euros.
Dois meses após os crimes, Nuno Pardal voltou a tentar contactar o menor. A 20 de setembro de 2023, questionou: "Então, 'baby', desapareceste?" Sem resposta, insistiu: "Gostava de te voltar a ver" e "Se for preciso volto a pagar".
"Quando os casos surgem, tomo imediatamente uma ação"
O presidente do Chega, André Ventura, defendeu ser um "líder que, nos tempos mais difíceis, quer ficar mais à frente do partido e dar a cara", num momento que caracterizou com "desafiante" para o partido.
"Eu não gosto de me esconder e, por isso, não estou fechado em casa ou à espera que os casos passem", referiu em entrevista à CNN Portugal, na quinta-feira.
André Ventura reconheceu ainda que "é um acaso com que nenhum líder gosta de lidar", mas que o partido que lideram difere dos restantes "na forma como reage a casos que não consegue controlar".
"Quando os casos surgem, tomo imediatamente uma ação. Não me escondo e tomo decisões disciplinares, quer dentro do partido, quer fora", frisou.
Recorde-se que, além do caso de Nuno Pardal, na quinta-feira, veio também a público que o deputado do Chega Açores José Paulo Sousa tinha sido apanhado numa operação STOP a conduzir com 2,25 g/l de álcool no sangue, na madrugada de dia 2 de fevereiro.
Estes dois casos juntam-se a um outro que muito tinta tem feito correr, com o, agora, deputado não inscrito Miguel Arruda que foi constituído arguido por suspeita do furto de malas no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.
"Calúnia" e "cobardia". Ferro Rodrigues admite processar André Ventura
A propósito da acusação do Ministério Público a Nuno Pardal Ribeiro, André Ventura afirmou que "outros" protegeram, no passado, Eduardo Ferro Rodrigues e o antigo porta-voz do PS Paulo Pedroso.
Um comentário que mereceu resposta de Ferro Rodrigues que sublinhou que a referência ao seu nome pelo "deputado André Ventura" se tratou de "uma demonstração de cobardia pessoal".
"Uma demonstração de cobardia pessoal de quem durante três anos teve oportunidade de me interpelar pessoalmente sobre essas calúnias e nunca o fez. Foi uma demonstração do desespero partidário em que a lama que levantou atinge severamente alguns dos seus", considerou o antigo presidente da Assembleia da República e ministro nos governos liderados por António Guterres.
"Irei proceder de modo a que corra mal aos extremistas estes processos de difamação e miséria politica. Em tempo útil. Não procedendo como ele [André Ventura] pretende, mas sim como me parecer mais eficaz", acrescentou.
Chega? "Não tem moral nenhuma para se dirigir a nenhum partido político em Portugal"
O secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, acusou o Chega de ter perdido autoridade moral para apontar o dedo a outros face aos casos que o atingem e admitiu que pior ainda seria se este partido tivesse responsabilidades governativas.
"O Chega não tem moral nenhuma para se dirigir a nenhum partido político em Portugal. Não tem superioridade moral, não está acima de nenhum partido, tem problemas graves, problemas mais graves do que os que estamos habituados a ver em outros partidos", acusou o líder socialista.
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