"Os acordeões fizeram sempre parte da minha vida porque eu nasci numa aldeia onde não havia eletricidade. A alegria de uma festa era um acordeonista", conta o português, nascido em Casais de Santa Teresa, na freguesia de Aljubarrota.
Começou a aprender de ouvido, e por mais voltas que a vida lhe tenha dado, a música acompanhou. Aos 11 anos foi viver para a Alemanha e a partir dos 12 foi para uma escola de música. A adaptação não foi fácil.
"Gostava tanto de Portugal que disse ao meu pai - ou me levas para Portugal ou eu vou com os camionistas à boleia. Na Alemanha vivíamos numa zona industrial, junto a uma empresa de indústria de ferro, as casas estavam todas degradadas, pretas, tudo muito feio. Sentia-me preso em casa", confessa, em declarações à Lusa.
O padrinho, em Portugal, ia-lhe ensinando o ofício. E aos 16 anos começou a tocar nos grupos folclóricos. Primeiro, em Dortmund.
"Comecei a fazer 'bailaricos' nas comunidades portuguesas espalhadas por esta zona, depois pela Alemanha toda, Holanda, Bélgica, França, Luxemburgo, e começou o sucesso. Paralelamente, reparava acordeões (...) Trabalhava para várias casas de música", recorda.
A palavra espalhou-se até que em 2007 decidiu dedicar-se à paixão por inteiro.
"Trabalhava numa empresa a fresar e a tornear peças para aviões e para máquinas da indústria mineira e vi que o meu futuro não era muito certo. Começaram a despedir pessoas. Eu tinha comprado uma casa para viver com a minha família, e decidi que me ia dedicar por completo aos acordeões. Abri uma oficina, comecei a importar acordeões de Itália, a restaurar e a vender", lembra.
Além da Alemanha, José Dias tem clientes que lhe chegam da Suíça, Áustria, Países Baixos, e França. A maioria é repetente, como o músico Quim Barreiros, ou vários finalistas da Copa do Mundo de Acordeão.
O português garante que tem trabalho até 2028, e não tem medo de que o acordeão caia em desuso.
"O acordeão tradicional tem sempre vantagem perante um acordeão eletrónico, não dá para substituir. Tem um timbre que não é fácil copiar eletronicamente (...) O acordeão continua na moda, apesar de não ser tão popular como uma guitarra", acredita.
Além dos particulares, José Dias trabalha para escolas de música do estado e orquestras, recordando que a Alemanha é o país do mundo com mais orquestras de acordeão do mundo.
"Os instrumentos precisam de manutenção, de ser limpos, da afinação corrigida, de algum tipo de renovação. E isso precisa de ser feito a cada três anos, mais ou menos", diz.
Concorrentes não há muitos, admite. E os que existem, a mais de uma centena de quilómetros de distância, não oferecem os mesmos serviços.
"Estou a fazer coisas que tenho a certeza que mais ninguém faz no resto da Alemanha. A minha profissão de fresador e torneador, ou torneiro, ajuda e auxilia a profissão principal. Essa é a minha vantagem perante a concorrência, que quando alguma coisa se estraga tem de importar de Itália. Eu fabrico muitos componentes específicos e não preciso de encomendar", garante.
A oficina "Akkordeonwerkstatt" está aberta três dias por semana e funciona por marcação online ou por telefone. Tem também uma loja virtual.
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