O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho foi ouvido, na qualidade de testemunha, mais um vez, esta terça-feira, no julgamento do processo BES/GES.
À saída do tribunal, no Campus da Justiça, em Lisboa, o ex-governante social-democrata garantiu que agiu "de acordo com a interpretação" que fez na altura "do que era o interesse coletivo, o interesse do Estado, o interesse nacional" e que isso "foi importante e defendeu a posição do país e do Estado".
"Não me sinto responsável pelo que se passou no Banco Espírito Santo, não tinha responsabilidades no Banco Espírito Santo. Esse caso está a ser julgado, saberemos no fim do julgamento o que é que se prova a nível de gestão do próprio banco. Certamente que ouve responsabilidade que há de ser apurada e, como qualquer cidadão interessado, espero que o processo possa concluir sem que a culpa não morra solteira", atirou.
Passos pediu "falência ordenada"
O antigo primeiro-ministro disse, ainda, em tribunal que, em maio de 2014, sugeriu ao então banqueiro Ricardo Salgado que negociasse com os credores do Grupo Espírito Santo (GES) uma "falência ordenada" desta entidade.
O chefe de Governo à data da resolução do Banco Espírito Santo (BES), no verão de 2014, contou que a recomendação foi dada depois de, numa reunião com Ricardo Salgado e outros dois elementos da instituição, estes terem solicitado que o Estado implementasse um programa de apoio ao GES, algo que Passou recusou.
"Eu convenci-me de que se tratava de um caso de polícia, não me cabe a mim determinar se era ou não era", afirmou.
Recorde-se que o processo conta atualmente com 18 arguidos, incluindo o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, de 80 anos e diagnosticado com a doença de Alzheimer.
Hoje, a defesa do ex-banqueiro lamentou durante o julgamento não poder, dada a situação clínica, conferenciar com o seu cliente para melhor exercer o contraditório sobre o sucedido nas duas reuniões relatadas por Pedro Passos Coelho.
Adriano Squilacce alegou que tal se traduz numa "violação das garantias de defesa" do arguido.
Ricardo Salgado responde por cerca de 60 crimes, incluindo um de associação criminosa e vários de corrupção ativa no setor privado e de burla qualificada.
O Ministério Público estima que os atos alegadamente praticados entre 2009 e 2014 pelos 18 arguidos, ex-quadros do BES e de outras entidades doGES, tenham causado prejuízos de 11,8 mil milhões de euros ao banco e ao grupo.
O julgamento começou em 30 de outubro de 2024, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.
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