"Já tive a ocasião de dizer, há uma moção de censura que foi apresentada, que incide sobre essa matéria, prestarei todos os esclarecimentos na Assembleia da República", declarou, em resposta aos jornalistas, na Embaixada de Portugal em Brasília.
"Eu estou muito tranquilo, farei aquilo que é a minha obrigação, com toda a tranquilidade de quem honrou sempre a sua vida pessoal, profissional e política por critérios de honestidade, de tolerância e de respeito por toda a gente", acrescentou Luís Montenegro.
O primeiro-ministro manifestou-se "convencido de que os parlamentares, em primeira mão, à minha frente, e o país perceberão" que assim é.
Interrogado se não se arrepende de não ter prestado logo esclarecimentos sobre este caso, o primeiro-ministro repetiu: "Eu darei todos os esclarecimentos que me forem pedidos na Assembleia da República na próxima sexta-feira, como tive a ocasião de dar a primeira vez que me foram solicitados".
Os jornalistas perguntaram-lhe se não interessa esclarecer nesta altura aos portugueses do que está em causa com a empresa de que foi sócio e que agora pertence à sua mulher e aos filhos de ambos.
Luís Montenegro deu a mesma resposta: "Eu já disse e repito, não levem a mal, eu posso repetir imensas vezes. Na próxima sexta-feira eu estarei na Assembleia da República e prestarei aos representantes do povo português todos os esclarecimentos que me forem solicitados sobre isso, sobre a governação do país, como é a minha responsabilidade".
O primeiro-ministro alegou que nunca se furtou a prestar explicações e, questionado sobre o facto de se manter em silêncio não só sobre este caso, mas sobre outros temas, respondeu: "Eu tenho estado a trabalhar todos os dias a bem da qualidade de vida dos portugueses, a bem do futuro dos portugueses".
"E eu acho que os portugueses percebem isso, eu acho que os portugueses percebem que eu me concentro naquilo que é essencial, sem me furtar a estar também disponível para responder às questões do dia-a-dia", considerou.
Depois, dirigindo-se para a jornalista que o tinha questionado, acrescentou: "Repare bem, muitas vezes essas questões não são exatamente aquilo que preocupa em casa as portuguesas e os portugueses que se sentam à mesa".
"Portanto, eu tenho de saber conciliar tudo, eu tento fazer isso com equilíbrio. Acho que os portugueses me percebem, honestamente. Não quero com isto dizer que não seja legítimo colocarem as questões todas. Eu nunca me furtei a responder a nada e é isso que vou continuar a fazer", completou.
Na terça-feira, ao aterrar em Brasília, onde hoje participou na 14.ª Cimeira Luso-Brasileira, o primeiro-ministro escreveu uma mensagem na rede social X, a avisar que não tencionava falar da "atual situação política interna" durante a sua deslocação ao Brasil, que só termina na quinta-feira, em São Paulo.
"Por respeito à representação de Portugal na importante cimeira que vamos realizar e à Assembleia da República portuguesa, remeto para o debate da moção de censura que terá lugar após o meu regresso ao nosso país todas as considerações devidas sobre a atual situação política interna", justificou.
O Correio da Manhã noticiou no sábado que a empresa Spinumviva da família de Luís Montenegro "poderá beneficiar com a alteração à lei dos solos aprovada pelo Governo" e que, sendo o primeiro-ministro "casado em comunhão de adquiridos com a principal sócia da firma", isso o deixará "numa situação de potencial conflito de interesses".
Em resposta ao jornal, o primeiro-ministro defendeu que não existe qualquer conflito de interesses, afirmou que desde 30 de junho de 2022 não é sócio dessa empresa, de que foi fundador e gerente, e que "nunca foi, não é e não será objeto da atividade da empresa qualquer negócio imobiliário ligado à alteração legislativa" da lei dos solos.
No domingo, o presidente do Chega, André Ventura, ameaçou apresentar uma moção de censura ao Governo PSD/CDS-PP, se o primeiro-ministro, Luís Montenegro, não desse explicações ao país sobre este assunto, o que ainda não aconteceu, e a moção entretanto foi entregue, e será debatida e votada na sexta-feira.
Na segunda-feira, André Ventura disse que a empresa em causa tem sede na casa de Luís Montenegro, em Espinho, e exigiu ao Presidente da República que encare as atuais condições políticas do primeiro-ministro para se manter em funções.
Embora demarcando-se da moção de censura, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, considerou que este caso é "muito semelhante" ao que levou à demissão do secretário de Estado Hernâni Dias e instou também Luís Montenegro a dar explicações "o quanto antes".
[Notícia atualizada às 21h14]
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