Fábio Loureiro, um dos evadidos de Vale de Judeus e que se encontra detido em Marrocos, revelou que, a partir desta segunda-feira, dia 10 de março, está em "greve de fome", afirmando estar a ser "prejudicado em vários aspetos" e que não fez "parte de qualquer plano de fuga".
Através de um longo comunicado partilhado pela mulher, Rita Loureiro, nas suas redes sociais, e citado pela CNN Portugal, Fábio Loureiro está detido em Marrocos "há cinco meses" e disse que "Portugal nada faz" para que "saia desta situação e seja extraditado".
"Pelo contrário, só me têm vindo a prejudicar com mentiras, falsas promessas e, de alguma forma, no meu entender, castigar-me por ter exposto as fragilidades do sistema prisional português", lê-se.
Fábio Loureiro continuou, dizendo que "só depois de várias insistências" por parte das advogadas é que recebeu "a visita da Embaixada Portuguesa, que nada faz".
Revelou ainda que "numa das vezes" terá sido dito à sua mulher que "é feio" pronunciarem-se acerca das "autoridades marroquinas".
O evadido enumerou assim os vários motivos que o levam agora a fazer greve de fome, como por exemplo, ter estado "algemado de pés e mãos com uma corrente a unir ambos os membros durante dias", que nunca lhe foram "retiradas as correntes para dormir, comer ou até fazer as necessidades fisiológicas", diz ter sido "tratado desumanamente e pior que um animal vítima de maus-tratos".
E continuou: "Estive cerca de trinta dias sem pátio; estive sem quaisquer produtos de higiene; não me permitiram contactar com a minha esposa ou qualquer outro membro da nossa família durante 16 dias; fui impedido de ter uma caneta durante quatro meses; não tenho qualquer tipo de objeto pessoal; quando é feriado em território marroquino, sou impedido de contactar a minha esposa; a duração de visita é, por lei, de uma hora, a qual agora é de cerca de 40 minutos, pois inicialmente era de 10 a 15 minutos".
Fábio Loureiro salientou ainda que "até ao dia de hoje", não tem "colchão, almofadas ou lençóis" e que foi "impedido de fumar".
"Tudo isto, além de desumano, é contra as normas do regulamento interno das prisões de Marrocos", referiu no comunicado, citado pela estação televisiva.
O presidiário afirmou ser "lamentável estarem cerca de 30 pessoas nestas condições de tortura psicológica e física, onde muitos permanecem anos e todos escolhidos a dedo".
"Espero que os Direitos Humanos e restantes entidades competentes venham visitar toda a prisão onde me encontro e vejam com os seus próprios olhos tudo o que estou aqui a expor", disse, acrescentado que é "um cidadão português, mas acima de qualquer nacionalidade regem os direitos internacionais".
"Eu, Fábio Loureiro, juntamente com as minhas advogadas, temos intenções de levar para a justiça todas as pessoas e entidades que me fizeram e estão a fazer passar por tudo isto", frisou.
Fábio Loureiro pediu ainda que "a justiça seja aplicada a cada uma destas, assim como em tempos foi comigo quando era jovem e cometi determinados delitos", ressalvando que a "lei deve ser aplicada a todos de igual forma" e que quer deixar "escrito" que acredita e confia "em Deus a todo o tempo".
"Acredito que, se de alguma forma sou eu a passar por tudo isto e deixando também a minha mulher a viver tal situação, é porque Deus me escolheu a mim para lutar pelos direitos que os reclusos têm, apesar de estarem presos, independentemente do país em que se encontrem".
Por fim, Fábio Loureiro deixou uma palavra de agradecimento a "todas as pessoas" que o apoiam, "que nunca faltam com palavras de coragem" e disse ser "eternamente grato por tudo" às suas advogadas.
"A Portugal quero deixar escrito que nunca fiz parte de qualquer plano de fuga e que não é por eu me encontrar nesta situação que as fragilidades do sistema prisional vão deixar de existir. FAÇO ESTA GREVE SOBRETUDO, porque o meu país nada faz para a minha extradição e por permitirem que um cidadão português permaneça em determinada situação", afirmou.
O detido disse que estão "constantemente com promessas e nunca se pronunciam sob o Reino de Marrocos" para que lhes "seja entregue, permitindo que a situação se arraste por indeterminados meses".
"Lutarei por justiça e pelos meus direitos", terminou Fábio Loureiro.
De recordar que Fábio Loureiro foi um dos cinco evadidos de Vale de Judeus, em setembro de 2024. O português foi o primeiro a ser capturado pelas autoridades, a 6 de outubro de 2024, em Tânger, Marrocos. Inicialmente, opôs-se à extradição, mas ainda no mês de outubro, acabou por aceitar ser extraditado para Portugal.
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