A crise política em Portugal ganhou, na terça-feira, um novo capítulo: o Governo de Luís Montenegro caiu, depois de ser rejeitada a moção de confiança. Avizinham-se eleições antecipadas e a situação não passou despercebida lá fora, onde os jornais destacam, sobretudo, a instabilidade dos últimos anos no país.
"Nem um ano durou o Governo conservador em Portugal: Porquê e o que vai acontecer agora?", lê-se no El País esta quarta-feira. O diário espanhol escreve que o Parlamento "rejeitou a moção de confiança apresentada pelo primeiro-ministro, o que levou à queda do seu Governo no meio de uma crise política marcada pelos negócios da sua família" e recorda uma crise que "começou há 19 dias". Além disso, destaca que "a decisão sobre o futuro político do país fica nas mãos do Presidente da República".
Por sua vez, o francês Le Monde noticia que "Portugal está a caminho de novas eleições legislativas antecipadas".
"Num clima de grande tensão, marcado por acusações de perseguição política e de eventual tráfico de influências, bem como por suspensões de debates e tentativas de negociação de última hora, a Assembleia da República rejeitou na terça-feira, 11 de março, a moção de confiança ao primeiro-ministro Luís Montenegro (Partido Social Democrata, PSD, centro-direita)", escreve, referindo que, "em consequência", o Presidente da República "deverá convocar novas eleições legislativas antecipadas o mais rapidamente possível". "A quarta em cinco anos", destaca.
É também neste último ponto que pega o The Guardian: "Portugal enfrenta as terceiras eleições em três anos com o Governo a perder moção de confiança".
"O Governo minoritário de Portugal perdeu um voto de confiança no Parlamento, forçando a sua demissão e provocando as terceiras eleições gerais no país da UE em três anos", escreve o jornal britânico, referindo que o Executivo, "uma aliança de dois partidos liderada pelo Partido Social Democrata (PSD)", estava "no poder há menos de um ano" e "tinha apenas 80 lugares na atual legislatura de 230 lugares".
Já a agência Reuters noticiou: "Governo português perde moção de confiança e aproximam-se as eleições".
"Lisboa, o Governo cai. Haverá novamente uma votação: a quarta em cinco anos", lê-se no Corriere della Sera, enquanto o também italiano la Repubblica escreve: "Portugal, não passa a confiança ao primeiro-ministro Montenegro: queda do Governo de centro-direita". "O primeiro-ministro está há dias no centro de uma crise política devido a uma série de conflito de interesses. O país poderá ser objeto de eleições antecipadas já em meados de maio", sublinha.
Do outro lado do oceano, o brasileiro g1 diz que "Portugal terá novas eleições após queda do primeiro-ministro" e lembra que Montenegro "estava no poder há menos de um ano". O New York Times decidiu fazer um trocadilho e adiantou: "Governo português cai num voto de desconfiança ao fim de apenas um ano".
Pode ver alguns destes destaques na fotogaleria acima.
O resumo de uma crise política
Recorde-se que a crise política foi desencadeada há cerca de um mês após notícias sobre uma empresa familiar que pertenceu ao primeiro-ministro, a Spinumviva, levando à apresentação de duas moções de censura do Chega e PCP, ambas chumbadas. Face às dúvidas que os partidos continuaram a manifestar, o primeiro-ministro anunciou a apresentação de uma moção de confiança, rejeitada na terça-feira, que provocou a queda do Governo.
As dúvidas sobre antiga empresa de Luís Montenegro, que antes de ir para o Governo passou à sua mulher e mais recentemente aos seus filhos, levou o PS a apresentar uma comissão parlamentar de inquérito para produzir resultados num prazo de 90 dias. No debate em plenário, o Governo admitiu retirar a moção de confiança caso o PS reduzisse o tempo do inquérito para 15 dias, mas o PS rejeitou.
Após uma interrupção dos trabalhos durante meia-hora, o PSD fez saber que propôs ao PS que o inquérito durasse até final do mês de maio, ou seja, cerca de dois meses, proposta que também foi rejeitada pelo PS. O requerimento do PS para uma comissão de inquérito propõe um prazo de até 90 dias.
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