A poucos minutos da hora marcada para a concentração, às 18:00, eram já vários os estudantes que se encontravam nas imediações da sede da associação de estudantes.
Se alguns tentavam entrar no edifício para participar na Assembleia Geral extraordinária, outros, munidos de cartazes, entoavam "mexeu com uma mexeu com todas".
"Onde está a FAP [Federação Académica do Porto]?", "Uma saia não é um convite" e "As minhas propinas não pagam o nosso assédio" eram algumas das mensagens presentes nos cartazes.
À medida que os minutos iam passando, juntavam-se cada vez mais estudantes à concentração, convocada pelo o movimento estudantil feminista da Universidade do Porto em solidariedade com as alunas que alegadamente terão sido gravadas e fotografadas sem consentimento.
Em declarações à Lusa, a presidente do Coletivo Feminista da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, Beatriz Morgado, afirmou que "não se poder deixar passar a situação".
"Estamos em solidariedade com as colegas que sentem medo e não estão seguras no seu ambiente académico, que deveria ser de segurança e não tem sido, nem foi pelas mãos dos responsáveis e dirigentes associativos da faculdade", assinalou.
A par de mostrar a sua solidariedade, o movimento estudantil feminista da Universidade do Porto exige "um procedimento criminal justo" e a "demissão dos responsáveis dos cargos associativos", acrescentou Beatriz Morgado.
Lea Costa, de 19 anos, e Bárbara Pinho, de 28 anos, juntaram-se à concentração em apoio com as alunas que "tiveram a sua privacidade completamente invadida", mas também para denunciar "a forma leviana com que as instituições superiores veem estas situações".
"Acima de tudo não pode haver impunidade. O grave neste caso é haver uma resposta pouco firme a nível institucional", afirmou Bárbara Pinho.
A elaboração de um plano de ação pela direção das faculdades, em conjunto com a reitoria da Universidade do Porto, a FAP e os diferentes coletivos e grupos feministas foi outra das reivindicações da concentração.
À Lusa, Diana Pinto, membro da Plataforma Portuguesa para o Direito das Mulheres, salientou a necessidade de se lutar "contra o sentimento de impunidade" no mundo 'online'.
"Vemos este caso com particular gravidade", referiu, denunciando a "desvalorização social da gravidade destes casos".
"A partilha não consentida de conteúdos íntimos sexuais é um crime, é violência contra as mulheres e é um atentado aos direitos humanos, em particular, num contexto de uma universidade e de um contexto associativo", observou, acrescentando que a luta permanece 51 anos após o 25 de Abril.
Pelas 19:30, os estudantes permaneciam nas imediações da sede da associação de estudantes, onde ainda decorre a Assembleia Geral Extraordinária.
Na sexta-feira, num comunicado dirigido à comunidade da FEUP a que a Lusa teve acesso, o diretor, Rui Calçada, explicou estar a acompanhar "de forma atenta e rigorosa" o evoluir da situação.
A alegada divulgação num grupo de WhatsApp de fotografias e vídeos de alunas, gravados sem o seu consentimento, foi revelada pela fundadora do movimento Não Partilhes, Inês Marinho, na rede social Instagram.
"Várias raparigas foram fotografadas por baixo das mesas e, sucessivamente, por baixo das saias. Descobriu-se também que existe um grupo de WhatsApp com oito pessoas onde se faz este tipo de partilhas e outras partilhas de conteúdo mais íntimo. Este grupo é constituído por ex-membros e membros atuais da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto [AEFEUP]", expôs Inês Marinho.
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