Maria Alice casou aos 20 anos. Um ano depois nascia a filha e o futuro sorria-lhe. No entanto, uma consulta de rotina deitou por terra os sonhos que tinha para si e para a sua família.
“Fui à médica de família para uma consulta de rotina e as análises ao sangue revelaram que a creatinina e a ureia apresentavam valores extremamente elevados. Fui logo reencaminhada para a consulta de Nefrologia onde fui observada ao longo de um ano e meio. Mas uma biópsia renal ditou-me o futuro: os meus rins pararam e eu tive que começar a fazer hemodiálise”, contou Maria Alice ao Notícias ao Minuto.
Foram momentos difíceis os que viveu. Estava casada há três anos e a filha tinha dois. Maria Alice permaneceu de baixa durante muitos meses, pois teve um quadro de anemia muito grave. Quando melhorou saía de casa muito cedo para ir trabalhar e, três vezes por semana, saía do emprego direta para a clínica em Lisboa onde fazia hemodiálise.
O tratamento tinha que ser feito três vezes por semana. Cada sessão durava quatro horas. Ao marido coube a tarefa de levar a filha à escola e, depois, levá-la à casa da avó onde a criança ficava durante o dia.
Maria Alice chegava a casa à noite, cerca das 23h00. Cansada e com poucas forças, ainda assim, conta, fazia questão de estar com a filha.
“A minha maior dor era não estar presente no crescimento da minha filha. Os meus rins roubaram-me isso”, lembrou emocionada ao Notícias ao Minuto.
Além da hemodiálise, Maria Alice, hoje com 49 anos, fez diálise peritoneal durante cerca de um ano e meio. No entanto, uma infeção obrigou-a a voltar para as máquinas da clínica em Lisboa – a diálise era feita em casa.
Mas o corpo da agora comerciante já poucas forças tinha para suportar 12 horas semanais de hemodiálise, pois já tinha passado 10 dez anos nessa condição.
“Ao fim de 10 anos as minhas veias colapsaram, já tinha que fazer o tratamento com recurso a um cateter. Já não estava a aguentar e então passei para o topo da lista de urgência máxima e finalmente encontraram um rim compatível comigo”, contou.
Estávamos em setembro de 2001. O telefone tocou a meio da noite. O rim tinha chegado.
Maria Alice e o marido dirigiram-se para o Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, logo pela manhã. Ela ficou internada, ele foi trabalhar. Em casa a filha preparava-se para ir para a escola, estava no 9º ano de escolaridade.
A intervenção cirúrgica correu bem, mas o corpo começou a rejeitar o órgão forasteiro. Felizmente, os médicos conseguiram reverter a situação e o organismo acabou por aceitar aquele rim tão desejado.
Hoje já passaram praticamente 15 anos desde o dia do transplante. Pelo caminho existiram largas temporadas no hospital devido a infeções, mas Maria Alice nunca se deixou sucumbir.
Atualmente está novamente sob observação. “O rim está a perder proteína. Não é bom, mas os médicos dizem que, para já, está tudo sob controlo. Vamos ver”, revelou.
“Espero que o rim dure ainda muitos mais anos”, desabafou, emocionada.