Hoje o Clube dos Pensadores (CdP) está de Parabéns. Celebram-se esta segunda-feira, dia 21 de março, dez anos de debates (mais de 100) com a presença de várias figuras, essencialmente ligadas à política, mas não só. De Marcelo Rebelo de Sousa a Paula Teixeira da Cruz, passando por Pedro Passos Coelho, António Costa, Alberto João Jardim, Jerónimo de Sousa, Paulo Portas, Pedro Santana Lopes, e por Belmiro de Azevedo, Arménio Carlos, Sobrinho Simões, Vítor Baía, Pedro Abrunhosa, foram muitos os que ao longo destes anos subiram ao palco do CdP.
A intenção? “Nutrir o espírito dos portugueses”, algo tão importante e necessário como “comermos”. Quem o diz é o fundador do CdP, Joaquim Jorge, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que quer através da “utilidade do inútil”, dar “o benefício da dúvida” a quem nos governa, quebrar barreiras e “aproximar as pessoas” em prol de uma sociedade “mais informada e mais culta”.
Com o apoio da sua “brigada de pessoas”, que inclui família, amigos e colegas, tenta com cada debate evitar que as “pessoas se deixem manipular” e “esbater cores políticas”. Recusa que o CdP seja um meio para chegar “a um lugar”, vive pressionado pelo medo de “cansar” quem o escuta, mas não baixa os braços na luta em que se lançou há dez anos de procurar sempre o melhor e "com interesse".
Apesar de ser uma voz ativa na sociedade e de já ter pensado em candidatar-se a um cargo político, considera que “o jogo está viciado de início” e a sua desvantagem é clara: “Estou logo a perder no início do ‘jogo’ cinco-zero ou mais”.
E se o futuro próximo não passa por aí, para o CdP há muitos desejos, entre os quais a diversidade dos convidados e a internacionalização, levar o Clube além fronteiras até ao contacto com emigrantes portugueses, por exemplo, “na Suíça” ou “em Inglaterra”. Para já, é tempo de comemorar o 10.º aniversário na companhia do antigo ministro da Economia, Daniel Bessa, que subirá hoje ao palco, como habitualmente, pelas 21h30 no Hotel Holiday Inn, em Gaia.
Como surge a ideia de criar o Clube?
Sou um irreverente, digo aquilo que as pessoas pensam. Gosto de intervir e não sabia como e tive um click. Estava em casa e disse ‘pronto, vou fazer isto’. Também critico muito os partidos que, como costumo dizer, são SA (Sociedades Anónimas) de assalto ao poder. Pessoas que não estejam num partido não podem ir para o poder. Deixei, aliás, de ir a um frente-a-frente numa televisão porque tinha de me identificar ou de Direita ou de Esquerda, ou deste ou daquele partido. Como não tenho e conforme a situação tenho a minha opinião, vivo na dificuldade de existir nesta ditadura de ideias e de partidos.
É formado em Biologia mas está 'em força' no meio da escrita e da intervenção
Só com os anos é que aprendi a gostar das palavras. Era muito direitinho, muito certinho, depois é que comecei a ‘dar cabo do quintal’. Tenho vindo ao contrário. Era muito mais de uma ideia de Direita e tenho-me vindo a aproximar da social-democracia. Não gosto muito de muita burocracia, gosto de ser eu.
O que pretende com o Clube?
Eu relaciono-me bem e comprometo-me com o processo, não com o resultado. Nunca estou a pensar no Clube como algo que pode dar-me um cargo, um lugar. Sou feliz nisto, dou-me bem com o que faço, o que me seduz é fazer coisas e desfruto disto. As pessoas perderam o hábito de estar, de contactar, talvez [o Clube] seja um resquício disso. Não são tertúlias é um debate que eu imaginei: um convidado de honra de grande nível, procurar que ele esteja ao nível [da plateia], não se trata ninguém por ‘doutor’, e, parece que não, mas isso aproxima as pessoas. Se calhar também faço pedagogia. Em Portugal é tudo doutor, não acho bem, as pessoas valem pelo que são. E consegue-se criar ali um ambiente de ‘tu cá tu lá’. Não é só o convidado lá do alto do seu pedestal a falar, metade da plateia a dormir, depois uma pergunta e vai-se tudo embora.
Sendo uma voz tão ativa, nunca pensou formar o seu partido, o seu movimento?
Claro que isso já me passou pela cabeça, simplesmente o jogo está viciado de início. Parto logo a perder cinco-zero ou mais. É preciso dinheiro, é preciso muita coisa.
Quais são as vantagens e desvantagens de ser ‘o rosto’ do CdP?
Trabalho imenso, mas gosto, portanto não me posso queixar. Outra desvantagem, como diz o meu amigo Manuel Tavares, é que estou ‘em campo aberto e não tenho como me defender’, estou muito exposto. Mas [também] tenho muitas vantagens. Sou capaz de ir na rua e as pessoas virem ter comigo e dizer ‘não desista’, ‘continue’, ‘chame à atenção’. Além disso percebo que as pessoas que frequentam o Clube estão cada vez mais sábias, não se deixam manipular, estão mais informadas, têm mais cultura democrática, já conseguem ouvir um convidado mesmo que não seja da sua cor política. Tento esbater essas cores.
É este o objetivo do Clube, fazer “crescer os cidadãos de meninos para adultos”?
Não quero ser presunçoso mas gosto que as pessoas estejam informadas e que saiam de lá [do CdP] mais cultas. Se formos de férias e visitarmos um museu ou se virmos um concerto, não é uma perda de tempo. Conversar com pessoas importantes é bom. O Clube dos Pensadores é uma coisa importante mas que não leva a nada. Como nós comemos também é preciso dar de comer ao nosso espírito, necessitamos de nutrir o espírito. E estas experiências e conhecimentos [proporcionados pelos debates] não se traduzem em benefícios económicos mas quem ali vai vê que tem sempre um mercado enorme. Como diz o Pedro Santana Lopes, ‘os debates do CdP parecem uma RGA’, aquelas reuniões dos estudantes no pós-25 de Abril.
Em dez anos foram mais de 100 os debates. Quais os momentos mais marcantes?
Tantos (risos). O reaparecimento de Santana Lopes depois de ser demitido pelo [à data] Presidente Jorge Sampaio. Foi o grande salto a nível de mediatismo. O Clube dos Pensadores é muito mais conhecido e muito mais bem aceite em Lisboa do que no Porto. E eu não tenho muito jeito para andar nos corredores do poder e bajular quem quer que seja. Um momento também bastante interessante, que não tem nada a ver com política, foi quando o Hermínio Loureiro apresentou a Taça da Liga no CdP, foi um momento mágico. Outro [momento marcante] foi quando Vítor Baía esteve no Clube, o primeiro jogador de futebol, e outro com o Pedro Abrunhosa, o Gilberto Gil português. Depois, claro, há o episódio com Miguel Relvas. Mas no Clube não há controlo e o momento alto nesse dia foi com toda a gente desarmar os manifestantes, começando a cantar ‘Grândola, Vila Morena’.
E para o futuro, o que podemos esperar?
Estou um bocadinho farto de política, gostava de ter outro tipo de convidados mas não é fácil. Enderecei um convite ao Rui Vitória, ao Jorge Jesus. Já estive para ter o Mourinho quando ele saiu pela primeira vez do Chelsea. Gostava de ter cá o presidente do Futebol Clube do Porto. E de internacionalizar o Clube, ter alguém de Espanha, do Brasil, dos países lusófonos, Angola, Timor, Cabo-Verde, Moçambique. Também gostava de ‘pegar’ no Clube e levá-lo a uma comunidade de emigrantes, reunir com eles, com um convidado e fazer o Clube nesse sítio, por exemplo, na Suíça, em Inglaterra.