Durante a homilia que antecedeu a procissão do adeus da peregrinação aniversária internacional de maio, 99 anos após as aparições, Manuel Clemente lembrou também que as "entidades políticas servem o bem comum, que é o bem de todos segundo as legítimas escolhas de cada um".
Na quinta-feira, Manuel Clemente, questionado em conferência de imprensa sobre alterações aos contratos de associação, disse que este pode ser o momento para se debater a liberdade de escolha no ensino.
"O papa é claríssimo sobre o direito e a responsabilidade dos pais, inalienável, diz ele, na educação dos filhos e na escolha do tipo de ensino para os filhos. E que o Estado deve ser subsidiário desse direito dos pais. E este ponto, que o papa vinca tão fortemente, é que é o principal", disse então.
Hoje, o cardeal patriarca voltou a abordar a questão da solidariedade e da subsidiariedade e esclareceu que é "neste ponto que culto, cultura e sociedade se devem harmonizar, mesmo e sobretudo em sociedades plurais e democráticas, como quer ser" a portuguesa.
"Sendo as famílias e o catolicismo realidades fundantes do que somos hoje, ainda que sejamos diversos, hão de ser tidos em conta por organizações posteriores, como o Estado ou as instâncias internacionais, quando legislam ou administram o que a todos respeita", vincou o também presidente da conferência episcopal portuguesa.
"Mas, estando nós em tempo de grandes indefinições culturais, lembro tão-somente que Portugal nunca se entendeu sem Santa Maria, cuja 'terra' é. E adianto ainda que só por grande distração ou preconceito não se notará o que aqui sucede há um século quase, neste chão bendito da Cova da Iria".
Manuel Clemente explicou também que várias gerações têm somado peregrinações, em "tempos de guerra e em tempos de paz, em horas de dor e ainda de esperança".
"Porque em tantos lugares continua a vida, pessoal ou pública, como sempre acontece. Buscam-se soluções, tomam-se medidas, de acerto variável... Mas, aqui em Fátima, antes, durante e depois disso e muito mais, cumpre-se o legado do Senhor na Cruz: temos uma mãe, pulsa um coração. Uma mãe que, sendo de Jesus, o é de nós todos. Um coração em que cabem e se sublimam os de todas as mães. Será esse talvez o maior 'segredo' de Fátima. E assim mesmo atrai, assim mesmo perdura".
O cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, presidiu na quinta-feira e hoje à peregrinação internacional que decorreu no Santuário de Fátima e que celebrou o 99.º aniversário das aparições.
Esta peregrinação foi a primeira grande celebração no novo altar do recinto de oração que permite uma maior visibilidade da também renovada basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
A obra foi adjudicada em março de 2015, durou cerca de um ano e constou da construção do altar, ambão (púlpito) e cadeiras da presidência: "Cada uma das três peças tem um caráter próprio e obedece a princípios individuais bem delineados, de acordo com a sua função e simbologia", assinala o Santuário.
"O meu espírito alegra-se em Deus, meu Salvador" foi o tema desta peregrinação que, para além das habituais cerimónias litúrgicas, incluiu o acolhimento da imagem da Virgem Peregrina - que viajou ao longo de um ano pelas 21 dioceses portuguesas do continente e ilhas, conventos e mosteiros de clausura - e a consagração dessas mesmas dioceses a Nossa Senhora de Fátima, na presença de todos os bispos portugueses.
A peregrinação abriu oficialmente na quinta-feira na Capelinha das Aparições, com uma saudação a Nossa Senhora e aos peregrinos.
Hoje, a celebração final começou às 09:00, com o rosário na Capelinha das Aparições. Seguiu-se, às 10:00, a procissão para o altar, missa, a tradicional bênção dos doentes, consagração e procissão do adeus.