O livro, "100 ans d'histoire des portugais en France"("100 Anos de História dos Portugueses em França"), vai ser apresentado na Maison du Portugal - André de Gouveia, na Cidade Universitária de Paris, no âmbito do Festival da Incerteza, organizado pela delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian.
A obra - "uma síntese histórica" segundo a autora - tem cerca de 200 páginas e percorre cronologicamente as vagas de emigração portuguesa para França, com destaque para períodos menos conhecidos como a participação de portugueses na resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial.
"Houve portugueses que já tinham lutado contra a ditadura de Salazar e combatido na guerra civil de Espanha junto dos republicanos, como Emídio Guerreiro. Além dos exilados políticos, houve trabalhadores que foram militantes em sindicatos e partidos políticos franceses e que também participaram na resistência francesa. Foram poucos, mas os franceses na resistência também foram uma minoria", explicou a historiadora à Lusa.
Além de Emídio Guerreiro, as Forças Francesas do Interior que lutaram contra a ocupação dos nazis contaram com outros nomes portugueses, citados no livro, como António Ferreira, morto em 1944 durante os combates de libertação de Paris, e José Lourenço que também morreu em 1944 durante os combates de libertação de França.
Para Marie-Christine Volovitch-Tavares, "a presença importante de portugueses data de há 100 anos" e, por isso, o livro começa com a assinatura do primeiro acordo de mão-de-obra entre França e Portugal, a 28 de outubro de 1916, e com o envio de soldados portugueses para a frente de Batalha na região de Lille, em França, durante a Primeira Guerra Mundial.
A historiadora aborda, numa segunda parte, o período entre guerras, com "50 mil portugueses em França em 1931", um número que diminuiu "com a crise mundial dos anos 1930", baixando para os 20 mil imigrantes em 1950.
"A terceira parte vai dos anos 1950 a 1970 quando chegaram muitos trabalhadores portugueses e alguns exilados políticos que lutavam contra a ditadura. É realmente o período em que os portugueses mais chegaram? No início dos anos 50 eram apenas 20 mil e em 1974/1975 eram 750 mil", acrescentou a especialista da história da imigração portuguesa em França, lembrando que neste período muitos portugueses chegaram ao país clandestinamente enquanto outros viajaram ao abrigo de acordos de mão-de-obra entre os governos francês e português.
O livro acompanha, ainda, a emigração portuguesa em França após o 25 de abril de 1974 até aos dias de hoje, tentando "lembrar a presença de portugueses de que não se fala muito", como "os que participaram na luta pelos direitos dos imigrantes nos anos 1980 e no final dos anos 1990 porque são coisas mal conhecidas em França e em Portugal".
Marie-Christine Volovitch-Tavares foi pioneira nos estudos sobre os emigrantes portugueses em França, sendo autora, nomeadamente, de "Portugais à Champigny, le temps des baraques" ("Portugueses de Champigny, o tempo das barracas") e tendo integrado o comité de historiadores que participaram na criação da Cité Nationale de l´Histoire de l´Immigration que é hoje o Museu da História da Imigração, em Paris.