"Falta de recursos humanos nos museus é um problema gravíssimo"

O presidente do Conselho Internacional de Museus - ICOM Europa, Luís Raposo, considerou hoje que a falta de recursos humanos é "um problema gravíssimo" que está a afetar o Museu Nacional Grão Vasco, assim como outros museus nacionais.

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Lusa
29/10/2016 13:23 ‧ 29/10/2016 por Lusa

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"A falta de recursos humanos nos museus nacionais é um problema gravíssimo. Este é um problema genérico e não apenas do Museu Nacional Grão Vasco", apontou.

Ao início da manhã, o diretor do Museu Nacional Grão Vasco, Agostinho Ribeiro, aproveitou a sessão de abertura do Encontro de Outono do ICOM Portugal, em Viseu, para aludir à falta de pessoal com que se debate esta instituição.

"Somos muito poucos e aquilo que estamos a fazer é um trabalho hercúleo, que não conseguiríamos se não fosse a dedicação, empenho e competência da equipa que lidero. Desejo muito que esta equipa se mantenha e se reforce, para continuarmos a perseguir os grandes objetivos de natureza museológica", referiu.

Para o presidente do ICOM Europa, a falta de recursos humanos é um problema que se vem acentuando nos últimos anos em vários museus, sendo o caso português particularmente grave.

"Em Portugal assiste-se ao que temos designado como hiato geracional: nunca tivemos jovens tão bem formados para trabalhar em museus, mas nunca tivemos tão poucos a entrar em museus", acrescentou.

Luís Raposo está consciente que este é um problema que não afeta apenas os museus, mas acredita que "o caso dos museus tem uma circunstância diferente das outras instituições", porque "são, por natureza, contratos intergeracionais, de longa duração".

"Os saberes que se aprendem na faculdade estão longe de chegar e é preciso ter aquilo a que se chama de amor pela casa, vestir a camisola, conhecer as coleções, saber os cantos à casa e quais os problemas que as coleções têm, desde coisas tão simples como tirar-lhes o pó ou iluminá-las bem", sustentou.

No seu entender, os saberes práticos que se adquirem no dia-a-dia do museu estão a perder-se porque não há a quem passar os testemunhos.

"Os mais idosos vão se reformando e não têm jovens a quem passar este conhecimento empático do dia-a-dia", lamentou.

Apesar de reconhecer que ninguém tem receitas mágicas, acredita que "já seria muito positivo que se aplicassem aos museus as regras de contenção e diminuição do funcionalismo público".

"Se recuássemos 10 anos no tempo, os museus públicos teriam quase o dobro dos funcionários que têm hoje. Portanto, não se está a aplicar aos museus sequer as regras de contenção e diminuição do funcionalismo público que se aplica geralmente à função pública", evidenciou.

Luís Raposo aproveitou para sugerir a abertura de programas de estágios profissionais para os formados em museologia ou outras disciplinas que interessem aos museus.

"Com estes estágios seria possível transmitir a componente prática de relação do dia-a-dia com os museus. Destes estagiários seriam selecionados os que pudessem ficar nos museus, aplicando a regra da função pública que se diz que existe, mas que para os museus é muito pior", explicou.

Ainda sobre os museus portugueses, o presidente do ICOM Europa defendeu que estes devem ter grandes margens de autonomia.

"A lei de quadro dos museus portugueses estabelece que cada museu deve ter uma direção, um orçamento e um quadro de pessoal próprio. Defendo que pelo menos os museus nacionais deveriam ter todos grande autonomia de projeto", realçou.

Assim sendo, deveriam também ter a possibilidade de arrecadar alguma receita própria.

"Não digo todas as receitas, porque isso iria prejudicar muitos museus, sobretudo da chamada província, que não têm capacidade de recolher tantas receitas como os que estão situados nos centros mais turísticos do país. Deve haver uma política nacional de museus e as receitas, em parte, devem ser reunidas e redistribuídas", concluiu.

 

 

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