Imigrantes: Um Natal longe da vista, mas perto do coração

A saudade colmata-se com o Skype e com o WhatsApp e os presentes dão lugar às palavras e sorrisos. O Natal de quem troca a família pelos amigos e vive as tradições de um país que não é o seu.

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Goreti Pera
24/12/2016 08:33 ‧ 24/12/2016 por Goreti Pera

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Para a maioria dos portugueses, Natal é sinónimo de reunir a família à mesa e de trocar presentes com os entes queridos. Para os estrangeiros que trabalham em Portugal, também. Mas a distância sobrepõe-se a muitas vontades e ser imigrante obriga a esforços.

Leticia Columna tem 22 anos e é natural de Vigo, em Espanha. O trabalho em Lisboa obriga-a a passar o Natal longe da família. O pai, mãe, irmã e avô, com quem é habitual partilhar a ceia de Natal, sentirão certamente a sua falta. Afinal, é a primeira vez que passará a noite de 24 para 25 de dezembro longe dos que mais ama.

“O voo é caro e, como vou a Vigo na passagem de ano, não posso ir no Natal. Vou ficar em Lisboa e juntar-me a três amigos também imigrantes”, contou ao Notícias ao Minuto, numa conversa em que a saudade se revelava no olhar.

“Por um lado, sinto-me triste. Mas, por outro, estou com expectativa. Estarei com amigos numa cidade com muito espírito natalício. Sempre passei esta época numa aldeia, apesar de já ter morado um ano no País de Gales”, revelou ainda.

Também Raquel Lima esteve emigrada noutro país antes de rumar a Portugal. Em 2001, mudou-se de Salvador da Bahia, no Brasil, para Atlanta, nos Estados Unidos. O marido, músico, foi fazer um intercâmbio e levou consigo a mulher e o filho, de três anos.

Com ascendência em Trás-os-Montes, o desejo de conhecer as origens falou mais alto. Raquel e o companheiro decidiram então mudar-se para Portugal. Hoje, vivem em Lisboa com os dois filhos, de 13 e 18 anos.

Quando se fala em Natal, a saudade aperta. Nada que um núcleo familiar sólido e o desejo de viver esta aventura intensamente não colmatem. “O Natal é geralmente uma festa de família e ficamos todos mais saudosos. Mas acabámos de chegar [há sete meses], foi uma grande mudança na nossa vida. Só voltamos ao Brasil no ano que vem”, confidenciou.

E o que fazer quando a saudade aperta? “O Skype e WhatsApp são os nossos melhores amigos. Falo com a minha mãe todas as semanas por videochamada e vou fazê-lo antes da ceia de Natal”, admite Raquel, perfeitamente ambientada à tradição portuguesa. O Natal é, assegura, “uma festa muito globalizada. O que mais muda é a comida”.

A mesma estratégia é adotada por Marina Ferraz, separada da família por um oceano. Os milhares de quilómetros que teria de percorrer para visitar São Paulo, no Brasil, e o dinheiro que teria de desembolsar pelo bilhete de avião inviabilizam a possibilidade de passar o Natal com os seus. “Vou para casa de uma amiga brasileira, cuja família vive em Portugal. Não é a minha família, gera alguma tristeza”, confessa. Ainda assim, os planos estão traçados: “Comer peru e fazer a troca de presentes à meia noite”.

As diferenças de hábitos chegam a sentir-se mais em relação à vizinha Espanha. Em casa de espanhóis, diz a tradição que a troca de prendas acontece a 6 de janeiro, Dia de Reis, em que se celebra a visita dos reis magos a Jesus Cristo.

Na casa de Leticia, na Galiza, os hábitos são outros: “Nós costumamos trocar as prendas no dia 25. Somos uma família atípica e não noto, nesse aspeto, grande diferença em relação a Portugal”. A mudança sente-se, essencialmente, a nível gastronómico.

O típico túrron (torrão) não falta na mesa dos espanhóis nas celebrações natalícias. Também Leticia se assegurou de que não faltaria na sua, mesmo estando em Portugal. “Os meus pais vieram visitar-me em novembro e trouxeram. Guardei-o para a ceia de Natal”, contou ao Notícias ao Minuto, nas vésperas daquela que é uma das noites mais aguardadas do ano.

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