Corridas de galgos. Afinal, há ou não maus-tratos aos animais?

Os argumentos dividem-se. Petição fala em abusos e violência. Donos dos animais garantem que os galgos correm porque o adoram fazer e negam abusos.

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Notícias Ao Minuto
18/03/2017 07:35 ‧ 18/03/2017 por Notícias Ao Minuto

País

Petição

Uma petição online sugere que sim, que existem maus-tratos aos animais que participam nas corridas de galgos e, por isso, pede a proibição das mesmas. Associações ligadas às corridas, contudo, negam existir qualquer tipo de violência, como os alegados choques elétricos durante os treinos, que alguma comunicação social relatou recentemente, e mostram indignação por ter sido criada uma petição 'começando pelo telhado'. 

O Notícias ao Minuto quis ouvir os dois lados. De um lado o PAN, partido que suporta a petição criada este mês e que conta com quase duas mil assinaturas. Do outro, donos de galgos e associações.

Um dono de dois galgos, conhecedor do meio, garante ao Notícias ao Minuto não existir o cenário de violência e maus-tratos retratados na petição."Paixão" e "amor" pelos animais são as expressões mais usadas durante toda a conversa. 

Diz que é "com tristeza" que vê que quem criou a petição não se deu ao trabalho de perceber o que se passa". E o que é que se passa? Primeiro, refere, em Portugal não existe negócio associado às corridas de cães galgos. O que existe, o desporto, existe apenas "devido à carolice de algumas pessoas que como eu adoram galgos e que a custo familiar e financeiro os mantêm".

O que os move?, perguntamos. "Nada. O gosto de os ver correr", responde, frisando ainda o facto de estes animais "adorarem" correr. "Não é preciso obrigá-los", vinca. Explica-nos ainda que no nosso país o que existe são corridas sempre a direito entre 150 a 200 metros.

 Por cá, atesta, "quando aparece alguém com menos escrúpulos acaba por desistir em pouco tempo porque não colhe grandes simpatias num meio pequeno como o nosso". Isto. "ao contrário dos países onde realmente existe uma indústria (EUA, Austrália, Reino Unido e Irlanda), suportada pelas apostas, onde as corridas são circulares e com distâncias mais longas", continua a elucidar-nos.

A petição em causa, sugere, é um 'copy paste' de petições existentes noutros países, onde há efetivamente uma indústria "poderosa" que "move muito dinheiro" e onde, defende, "terá de haver algum tipo de contra balanço para levar as pessoas a agir sempre bem". 

"São mais bem tratados do que certas crianças"

Armando Amaral, presidente da Associação de Galgueiros do Centro, mostra-se também indignado com a petição e pede, aliás, que esta seja eliminada. "Nada daquilo é verdade", garante, em conversa com o Notícias ao Minuto. Armando rejeita a ideia de que haja maus-tratos no meio onde se move. "Nunca vi ninguém tratar mal um galgo, mas já vi pessoas a tratarem mal pastores alemães, caniches, ou outras raças, na rua", defende-se, garantindo que os galgos "são mais bem tratados do que certas crianças".

Argumenta que as competições de galgos são, nada mais nada menos, do que um desporto onde os cães são os atletas, um momento de interação entre animais e homem. Nestas corridas, atesta, os cães não são obrigados a correr. São "vocacionados" para isso mesmo. "Correm por prazer próprio", sublinha. E o treino, explica, é andar todos os dias meia hora, 45 minutos, uma atividade saudável quer para os animais quer para os donos. Mais ainda, acrescenta Armando, ninguém leva cães debilitados a competir.

"Os donos gostam de ver os animais de boa saúde". Evidenciando como estes animais são tão bem tratados, Armando conta-nos que muitos dos galgos em Portugal são inclusivamente dadores de sangue.

Por fim, evoca ainda a "função social" das corridas, uma vez que as "receitas das inscrições de algumas provas são para Bombeiros e outros", garantindo que está  sempre disponível para doar receitas - que não são grandes fortunas - a instituições de solidariedade social que ajudam quem mais precisa. 

O PAN e a desinformação do ministério

André Silva, do PAN, fala em "esforços inglórios" que têm sido feitos até agora a respeito do assunto. O partido debaterá a petição "acompanhando o sentimento dos peticionários com uma iniciativa legislativa, oportunamente".

A petição descreve uma situação "lamentável" em que existe um processo de seleção, manutenção, treino e destino dos galgos "vergonhoso e cruel". Alega que os animais "são criados com o único propósito de correr e vencer, muitos cães jovens e saudáveis são descartados e mortos".

E descreve um cenário de horror nestas competições: "Os cães que vão para as pistas enfrentam um duro programa de treino e, durante os treinos e as corridas, sofrem riscos significativos de lesões, como fraturas de pernas ou traumatismos cranianos. Alguns chegam a morrer de ataque cardíaco devido ao intenso desgaste físico. Os danos físicos são muitas vezes considerados “inviáveis financeiramente” para serem tratados e o treinador – que se diz 'proprietário' – opta por matar o cão".

Na sequência de uma reportagem da Visão, que denunciava violência e brutalidade contra os cães galgos, o PAN denunciou o caso ao Ministério Público. "Todas as denúncias foram arquivadas por não se conseguir obter provas", afirma o partido ao Notícias ao Minuto. 

Poder-se-á dizer que cada parte puxará a brasa à sua sardinha. Até que ponto cada um o faz, é a pergunta que fica no ar. O que parece existir, independentemente da verdade, é falta de informação sobre estes eventos no ministério competente, o da Agricultura. 

André Silva questionou o ministério sobre se tinha conhecimento da atividade de corridas de galgos, se já ocorreu alguma ação de fiscalização a estas corridas, se sim quando, quantas e qual o resultado das ações, se tem conhecimento dos violentos métodos de treino utilizados nesta atividade e se tem conhecimento da administração de drogas estimulantes. A resposta? "O MAFDR não tem conhecimento da existência das corridas referidas na pergunta parlamentar". Isto, frisa ainda o PAN, "apesar dr os secretários de Estado estarem com frequência em eventos onde há corridas de galgos". 

 

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