A praia de São João da Caparica, em Almada, foi esta tarde palco de uma tragédia quando uma aterragem de emergência de uma avioneta vitimou dois banhistas que se encontravam na praia, um homem de 56 anos e uma criança de oito anos.
Reportagens televisivas deram conta de testemunhos de pessoas que se encontravam no areal na altura do acidente, mas a dado momento, e enquanto decorriam as peritagens, o pai da menina, que morreu na sequência desta aterragem de emergência, abordou a reportagem da TVI 24 para falar da tragédia.
“Estávamos ali a brincar, com a maré baixa, onde a água é escoada na lagoa, e estava com o meu cunhado a explicar de forma educativa às minhas duas filhas e aos meus sobrinhos o que é um agueiro e como se forma um agueiro. Entretanto, um dos meus sobrinhos chamou-me a atenção para uma aeronave que vinha baixa junto ao paredão”. Foi nessa altura que pegou e afastou as crianças que estavam junto dele, recordou.
Visivelmente revoltado, e ignorando as tentativas que se seguiram da equipa da TVI24 para interromper a emissão que estava a passar em direto, o pai da menina prosseguiu com o relato que transcrevemos em baixo:
“Disse à Sofia, que faleceu, para correr atrás de mim, a Sofia correu aquilo que pôde, quando vi que eles [as crianças que tinha afastado do local] estavam em segurança, quando me voltei para trás para ajudar a Sofia vi-a a ser colhida. Dirigi-me ao senhor que vinha a pilotar a aeronave e o senhor disse-me que perdeu o controlo da aeronave e eu podia ter-lhe dado dois socos, tinha esse direito, mas não o fiz”, acrescentou.
“O senhor [referindo-se ao piloto] fez uma trajetória reta dali da zona do paredão, atropelou duas pessoas, e fez uma trajetória reta com uma ‘asasinha’ partida e querem-me convencer a mim que o senhor tinha problemas de controlo da viatura. Eu, quando tenho problemas de controlo do meu carro, não consigo fazer uma trajetória tão reta. A minha opinião é que aquele indivíduo quis aterrar a aeronave sem qualquer preocupação com o resto. Está a sofrer, bem sei, mas a preocupação foi aterrar em segurança”, considerou o pai da criança.
Antes de a emissão ser interrompida, o pai da menina revelou ainda que tem “neste momento quatro objetivos” na sua vida. “Primeiro, fazer com que a minha família fique bem, nomeadamente a minha mulher e a minha filha [irmã da vítima mortal], segundo, enterrar a minha filha, terceiro, fazer com que aquele senhor não volte a voar, porque ele podia ter fletido para ali [apontando para o mar] e na pior das hipóteses tinham morrido o piloto e o copiloto, e o quarto objetivo é fazer com que estes aviões não voem sobre as praias”, disse ainda, numa altura em que a entrevista estava a terminar e, ao mesmo tempo, o seu cunhado tentava que o pai da criança evitasse continuar o seu testemunho, numa altura em que, compreensivelmente, estava visivelmente perturbado.
Saliente-se que os dois tripulantes da aeronave – piloto e copiloto – escaparam ilesos do acidente e encontram-se a ser ouvidos pelas autoridades. No local mantém-se um perímetro montado para que as peritagens das autoridades possam decorrer.
O pai e a mãe da menina estavam igualmente a ser acompanhados no local, para receberem apoio psicológico.