"O PS procura ocupar todas as posições de poder não só no espaço das suas nomeações políticas -- está no seu direito -, mas também em todas as posições de poder no Estado e na sociedade portuguesa. A vocação do PS no poder é sempre para o exercício hegemónico do poder e, depois, fazer apelo a uma torrente aparentemente imparável de propaganda", afirmou, num jantar-conferência na Universidade de Verão do PSD, que decorre até domingo em Castelo de Vide (Portalegre).
Miguel Morgado defendeu que o PSD deve ter "orgulho" de não ter optado por esse modo de governação no passado e "fazer os possíveis e impossíveis para não o imitar" quando voltar ao governo.
O deputado falou sobre o que é ser social-democrata hoje em Portugal e considerou que "existe um esforço de condicionamento do PSD", com acusações de que o partido se radicalizou, quer numa deriva conservadora, sob a anterior liderança de Manuela Ferreira Leite, quer numa deriva liberal, sob a presidência de Pedro Passos Coelho.
"Esqueçam isso tudo, isso não é senão uma tentativa mais ou menos grosseira de nos condicionar", afirmou o antigo assessor político de Passos Coelho, quando exerceu as funções de primeiro-ministro entre 2011 e 2015.
O também professor universitário salientou que o PSD foi construído para "ser uma alternativa permanente ao projeto das esquerdas, tanto à esquerda totalitária, como à esquerda socialista democrática".
"É aí que percebemos por que nos querem condicionar: querem que o PSD se torne uma espécie de satélite do PS, querem inibir a nossa capacidade de nos definirmos no plano dos nossos princípios", afirmou, defendendo que "ser social-democrata hoje em Portugal requer uma qualidade importante, a qualidade da coragem cívica".
Na fase das perguntas, Miguel Morgado foi questionado sobre as declarações proferidas hoje de manhã, também na Universidade de Verão do PSD, pelo ex-Presidente da República Cavaco Silva, que pediu aos jovens "força e coragem para enfrentar o regresso da censura".
No entanto, o deputado e vice-presidente da bancada do PSD não respondeu diretamente e preferiu referir-se a uma excessiva importância atribuída à comunicação na tomada de decisões políticas.
"Há uma tentativa de condicionamento da nossa liberdade intelectual, a 'geringonça' faz o possível para o transmitir, mas isso é uma treta, devemos tratá-la assim e mantermo-nos fiéis aos nossos princípios", reiterou.
Criticando os que, fora do partido, aludem à figura de Francisco Sá Carneiro para dizer que o PSD se radicalizou, Miguel Morgado lembrou que o fundador do partido foi "um homem de ruturas".
"Nasci em Setúbal e lembro-me do que aconteceu quando Sá careiro morreu, na minha terra houve fogo de artificio", lamentou.