"Muitos países não querem assumir compromisso de neutralidade carbónica"

O presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, disse à Lusa, em Paris, que uma declaração de neutralidade carbónica em 2050 é "demasiado ambiciosa" para ser feita na cimeira "One Planet Summit", ao contrário das expectativas do ministro do Ambiente.

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Lusa
12/12/2017 12:24 ‧ 12/12/2017 por Lusa

País

Francisco Ferreira

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, considerou que a cimeira de chefes de Estado e de governo, que hoje decorre na capital francesa para assinalar o aniversário do Acordo de Paris, deverá resultar numa declaração conjunta visando a neutralidade carbónica em 2050.

Para Francisco Ferreira, ainda que Portugal tenha assumido essa "neutralidade carbónica" e que o acordo de Paris deva ser "100% assente em energias renováveis em 2050", uma declaração conjunta é uma meta "demasiado ambiciosa" para sair da "One Planet".

"Eu acho que essa declaração é demasiado ambiciosa para ser feita aqui. Há muitos países que não querem assumir desde já esse compromisso de neutralidade carbónica em 2050 e, por isso, é que Portugal é tão único neste contexto, não é o único país, mas é dos poucos que o afirmaram", declarou.

Francisco Ferreira sublinhou, porém, que "o planeta como um todo, em linha com o acordo de Paris, tem de atingir essa neutralidade na segunda metade deste século e isso não pode ser feito nos últimos anos", acrescentando que "o clima está a mudar mais depressa do que as negociações".

O presidente da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, lembrou que se trata de mais de uma "cimeira de apresentação de resultados e de concertação de vontades do que propriamente de concretização negocial" e lembrou que "são as cimeiras anuais das Nações Unidas que acabam por ter esse papel", como a COP 23 que se realizou recentemente em Bona, na Alemanha, e a COP 24 que se vai realizar na Polónia em 2018.

"[Esta cimeira] é acima de tudo para mostrar ao mundo que o Acordo de Paris está vivo, que é o caminho a seguir, que há exemplos que já podemos utilizar", explicou Francisco Ferreira, acrescentando que 2018 é um "ano absolutamente crítico" porque é quando deve ser terminada a regulamentação do entendimento e "aumentar a ambição dos compromissos feitos em Paris" em 2015.

O ambientalista admitiu que ainda não se cumpriu o compromisso, rubricado no Acordo de Paris, das nações mais ricas darem cem mil milhões de dólares por ano para países vulneráveis às alterações climáticas, mas que nesta cimeira já se começou "a somar os números" para atingir esse valor a partir de 2020, "independentemente dos Estados Unidos estarem a ameaçar sair do acordo".

Francisco Ferreira acrescentou que os Estados Unidos "ainda não formalizaram a saída" e que há uma "diferença abissal" entre "aquilo que muitas cidades, Estados e empresas estão a fazer" naquele país e "aquilo que o governo do Presidente Trump tem vindo a fazer" e que "os Estados Unidos estão internamente a fazer muito mais mesmo do que o Presidente Trump gostaria".

A reunião de líderes mundiais denominada 'Cimeira Um Planeta' (One Planet Summit) é uma iniciativa do Presidente francês, Emmanuel Macron, para assinalar os dois anos do Acordo de Paris sobre redução de emissões e junta mais de 50 chefes de Estado e de governo, como o primeiro-ministro português, mas também o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.

Estão ainda presentes, por exemplo, o ator Sean Penn, o multimilionário Bill Gates e o ex-governador do estado da Califórnia Arnold Schwarzenegger.

De fora, ficou Donald Trump que não foi convidado já que a cimeira foi marcada depois do anúncio do presidente norte-americano para retirar os Estados Unidos do Acordo do Clima alcançado na COP21, em Paris, em 2015.

 

 

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