Pedro Machado: O senhor sete ofícios que correu mundo "de dedos trocados"

É um dos residentes que enche a Casa do Artista com as histórias de talento. Um músico e ator que começou a viver os seus tempos de sucesso antes do 25 de Abril. Consigo guarda as recordações de uma vida com muitas aventuras e desafios.

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Marina Gonçalves e Sérgio Abrantes
21/12/2017 08:00 ‧ 21/12/2017 por Marina Gonçalves e Sérgio Abrantes

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Músico

"Fui músico, ator, cantor, produtor, diretor artístico...”. Assim começa por se descrever Pedro Machado, o homem dos sete ofícios, que nasceu no Porto.

Apesar de ter passado por várias áreas do mundo das artes, foi a música o seu primeiro amor. Aos oito anos, ainda na escola primária, criou a primeira ‘banda’. Um grupo de crianças partilhava o amor pela música e construiu os próprios instrumentos para dar música aos ouvidos dos colegas.

Completou apenas o quarto ano de escolaridade, uma vez que as dificuldades financeiras dos pais o obrigaram a que começasse a trabalhar cedo.

Aos 14 anos, Pedro Machado teve o primeiro contacto com a música “a sério”, na companhia de um colega do pai, José Fontes Rocha, um guitarrista português que veio depois a tocar com a fadista Amália Rodrigues.

Quis aprender a tocar viola para conseguir acompanhar os temas que não pertenciam ao fado, e fê-lo sozinho. “Fazia as posições, os tons, na guitarra e depois ia procurar na viola onde é que estavam aqueles sons. Só mais tarde é que vim a saber que estava completamente errado na forma como fazia os desenhos [notas]. Fazia tudo bem, mas com os dedos trocados. Ainda hoje meto as mãos pelos pés, mas faço música na mesma. Quando ensinava dizia: ‘Não olhem para os meus dedos porque estou a fazer mal’”, explica.

Mais tarde, aos 18 anos, profissionalizou-se no mundo da música e, a partir daí, o sucesso foi-se construindo de dia para dia. “Um percurso muito importante, muito rico”, afirma.

Fundou o grupo ‘Os Três de Portugal’ em 1957. Uma banda muito popular na altura e que em 14 anos gravou 30 discos. O grupo chegou ao fim em 1971, mas ainda lhe deixa saudades.

Passaram por vários países e interpretaram temas em várias línguas, mais precisamente em cinco. Muitas aventuras viveram, mesmo antes da Revolução dos Cravos.

Jovens, charmosos e bem parecidos, não passavam despercebidos aos olhares das mulheres de todo o mundo, tendo Pedro Machado vivido muitos romances ao longo da vida.

Depois do “trio” ter acabado, chegou o seu percurso no mundo da representação. Começou como ator de Revista, tendo contracenado com artistas de “gabarito”, entre eles, Maria de Céu Guerra, Nicolau Breyner e João Perry.

O fim da Revista levou-o outra vez para o mundo da música. Desta vez, enveredando pelo fado. Tocou ao lado de vários fadistas portugueses, entre eles, António Mourão e Alfredo Marceneiro.

Depois de tudo o que viveu decidiu ir estudar no Centro das Novas Oportunidades, ficando com o equivalente ao 12.º ano. Aí fundou uma escola de fados.

“Entrei como aluno e saí como professor. Quando me pediram para levar o meu currículo, andou de mão em mão dentro da escola. Várias formadoras vieram pedir-me se podiam fotocopiar. Quando marcaram o exame, vinha um funcionário do Ministério da Educação – não sei qual era a categoria dele – e nesse dia eu não podia. Então, fui depois sozinho. Estavam cinco formadoras e mais o dito cujo, que levava o meu portefólio debaixo do braço. Depois, uma das pessoas disse: ‘Senhor Pedro Machado, não vamos fazer pergunta nenhuma. Vamos simplesmente convidá-lo a falar’. Falei durante hora e meia. Quando chegou ao fim, olharam uns para os outros e escreveram. Fiquei inscrito para o 12.º ano”, recorda.

Hoje vive na Casa dos Artista com os seus instrumentos. Consigo anda sempre uma pasta com todas as histórias vividas e noticiadas, a que recorre para lembrar detalhadamente cada momento único da sua vida.

Aos 84 anos, além de sofrer da doença de Parkinson, Pedro Machado é ainda vítima da Doença de Bowen, condição que o obrigou a ser operado três vezes. Um problema de saúde que está a ser acompanhado de perto por uma equipa médica e que o levou a tomar uma decisão importante.

“É aqui que entra a Universidade Nova de Lisboa. Se eu puder contribuir – não é para o Parkinson porque esta doença está mais que estudada – para saber como é que a Doença de Bowen aparece, ser útil nesse campo… Não estou interessado em que depois de morrer me façam um funeral com muitas velinhas e flores, nem quero ser enterrado. Pensei em ser cremado, mas assim sou mais do que cremado”, remata, explicando que vai entregar o corpo à ciência.

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