A cerimónia aconteceu na rua Sampaio Bruno onde viveu durante 40 anos e juntou o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Pedro Cegonho, além de amigos e antigos vizinhos.
Marcelo Rebelo de Sousa, que descerrou uma placa junto ao número 18 da rua Sampaio Bruno, apresentou-se como Presidente, ex-aluno de Rómulo de Carvalho, e como cidadão, recordando "os três" -- o professor, o historiador e divulgador da ciência e o poeta.
"Aqui estou também, com muita saudade, enquanto aluno devotado a agradecer anos inesquecíveis da minha vida. Como cidadão militante, a saudar a justiça desta memória para sempre, como Presidente para juntar a minha voz às dos Presidentes Mário Soares e Jorge Sampaio, que já o galardoaram, atribuindo-lhe, desta feita, a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, que bem mereceu", disse.
Marcelo recordou poemas de Gedeão, o pseudónimo literário de Rómulo de Carvalho, "Suspensão Coloidal" -- "Penso no ser poeta, e andar disperso / na voz de quem a não tem; / no pouco que há de mim em cada verso, / no muito que há de tudo e de ninguém."
Citou Rómulo de Carvalho para definir a profissão de professor: "O professor tem de ser uma paixão, pode ser uma paixão fria, uma dedicação."
E ainda declamou alguns versos do poema "Impressão Digital": "Inútil seguir vizinhos / querer ser depois ou ser antes. / Cada um é seus caminhos. / Onde Sancho vê moinhos / D. Quixote vê gigantes."
Para Marcelo Rebelo de Sousa, Rómulo de Carvalho, que morreu em 1997, com 90 anos, é "um gigante".
À exceção do filho, Frederico Carvalho, que agradeceu a homenagem ao pai, quase todos os oradores citaram poemas de Gedeão.
O ministro da Cultura recitou "Lágrima de Preta", o presidente da Câmara de Lisboa optou por excertos de "Pedra Filosofal".
O filho recordou a ligação do pai, que viveu e morreu não muito longe do local onde estava, "no 3.º andar esquerdo do n.º 18" da rua Sampaio Bruno, à cidade e a quem viveu à sua volta, o armário em cima do qual escrevia, "de 1,15 m de altura", e o gosto pelo ensino.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu em Lisboa, em 24 de novembro de 1906, licenciou-se em Ciências Físico-Químicas, pela Universidade do Porto, em 1931, e optou pelo ensino -- e pelo ensino secundário, especificamente -, por "gostar de ser útil", sendo durante mais de 40 anos "professor de liceu".
Dedicou-se à investigação, centrada em particular na "História da Ciência em Portugal" no século XVIII, nas áreas da Física, da Astronomia e da História Natural, e na pedagogia, tendo escrito a primeira "História do Ensino em Portugal", desde "a fundação da nacionalidade ao fim do regime de Salazar-Caetano".
O percurso poético, encetado com "Movimento perpétuo" (1956), como António Gedeão, teve continuidade com "Teatro do mundo" (1958) e "Máquina do fogo" (1961). Seguir-se-ia uma incursão no teatro, com "RTX-78/24" (1963), outra na ficção, com os contos de "A poltrona" (1967), mas foi a poesia que prevaleceu com os novos originais de "Linhas de força" (1967).
As primeiras obras de divulgação datam de 1951, com a coleção "Ciência para gente nova", pioneira em Portugal na divulgação científica. Rómulo de Carvalho dedicou títulos à história do telefone, da fotografia, do átomo, dos isótopos, da radioatividade e da energia nuclear, a que mais tarde juntaria "A história da lua". "O que é a Física" e "Física para o povo" seriam reunidos, na década de 1990, na coletânea "A Física no dia-a-dia".