“Esta ágora virtual em que vivemos atualmente, em que nada se consegue esconder por muito tempo e todos têm acesso à informação, é por um lado bom, mas por outro preocupante”. A expressão é de Joaquim Jorge e refere-se, em concreto, à situação dos coletes amarelos que desde há cinco semanas tem marcado a atualidade francesa.
Para Joaquim Jorge, a maioria dos “manifestantes não é fascista”. Há, isso sim, “oportunistas da crise que podem levar ao extremismo. São os populistas, ultras e anti-sistema podem tomar a dianteira”.
Já em território nacional, está agendada uma manifestação para o dia 21 de dezembro e convém, por isso, no entendimento do fundador do Clube dos Pensadores, “estar atento ao possível aproveitamento da extrema-direita”.
Considera ainda o comentador, num texto enviado à redação do Notícias ao Minuto, que os “partidos de extrema-direita proliferam por todo o lado”, sendo que “recentemente em Espanha o Vox entrou no xadrez político nas eleições da Andaluzia”.
Já em Portugal, aparentemente, “a extrema-direita não tem muita expressão”, porém se houver um partido com esse posicionamento político “que concorra às eleições pode ter algum êxito”. Joaquim Jorge justifica que “há muitos portugueses que acham que isto só lá vai com uma ditadura e que é preciso pôr ordem em Portugal, na justiça, na imigração, no crime organizado, na corrupção, etc. Os portugueses são uns cobardes, mas na hora do voto, o anonimato favorece-os”.
Enquanto em França, entende, “os coletes amarelos surgiram porque há uma grande clivagem na credibilidade política que se pode transformar num abismo”, em Portugal “há a erosão da velha política e dos seus dirigentes a quem atribuímos a nossa confiança e que nos têm desiludido”. No fundo, assevera o fundador do Clube dos Pensadores, “são os nossos mediadores que gerem os assuntos públicos, mas a corrupção tem minado a política: ex-primeiro-ministro preso, ministros presos, bancários presos, etc”.
Em causa está, como advoga Joaquim Jorge, “uma crise de representação na política e os portugueses não se reveem em quem nos representa, enredados nos seus aparatos burocráticos, nos seus fatos escuros e sorrisos brancos”.
Por sua vez, “os coletes amarelos querem o ‘presentismo’ e que as coisas mudem já e agora, é uma forma radical de democracia. Não aceitam ser representados por ninguém, nenhum partido, nenhum sindicato, nenhum dirigente, ninguém pode falar por eles ou negociar por eles. Desconfiam de tudo e de todos”. Ora, por efeito de contágio, considera o comentador, os coletes amarelos “podem criar problemas em Portugal”, motivo pelo qual “a nossa sociedade e o Governo devem estar atentos”.
As novas gerações nesta época contemporânea, continua o biólogo, “permitem convocar uma manifestação pelas redes sociais”. Já o “seu maior problema é que acham que não vale a pena votar”. Os portugueses, alega ainda, “têm a noção que os políticos são um bando de corruptos e que estão lá para se governar e façam o que fizerem nada lhes acontece”.
Para terminar, Joaquim Jorge acredita que os portugueses, “se pudessem, mandavam esta malta da política toda embora e gostavam que muitos deles fossem presos e castigados pelo que têm feito”.