"A estabilidade está nas mãos do PS", diz Jerónimo de Sousa

Jerónimo de Sousa faz balanço das eleições legislativas do domingo passado, numa altura em que ainda não se conhece em que moldes surgirá (ou se surgirá) uma nova Geringonça. A estabilidade governativa, diz, "está nas mãos do Partido Socialista".

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Melissa Lopes com Lusa
09/10/2019 10:29 ‧ 09/10/2019 por Melissa Lopes com Lusa

Política

Jerónimo de Sousa

No dia em que se reúne com António Costa para formação de uma solução governativa, Jerónimo de Sousa faz um balanço dos resultados eleitorais que este domingo se materializaram na perda de deputados do PCP no Parlamento. Após uma reunião com o Comité Central do partido, o secretário-geral do partido sublinhou que o resultado obtido pela CDU nas eleições "constitui um fator negativo para o futuro próximo do país".

Um resultado que, acusou Jerónimo de Sousa, é "inseparável de uma intensa e prolongada operação de que foi alvo, sustentada na mentira, na difamação, na promoção de preconceitos". E já assim tinha sido nas eleições para o Parlamento Europeu, disse. 

Neste balanço, o secretário-geral do PCP sublinhou a necessidade de uma política que “desamarre o país dos constrangimentos que, por opções do PS, limitam e impedem a resposta aos problemas nacionais e às aspirações populares, numa conjuntura política daquela que se apresentou há quatro anos”.

E, nesse sentido, “será em função das opções do PS, dos instrumentos orçamentais que apresentar e do conteúdo do que legislar, que o PCP determinará, como sempre, o seu posicionamento, vinculado aos compromissos que assumiu com o povo, decidido a dar combate a todas as medidas negativas, a todos os retrocessos que o PS quer impor”.

"O Comité Central do PCP reafirma neste quadro que os votos confiados à CDU são força que vão contar para fazer avançar as condições de vida e o desenvolvimento do país. Da parte do PCP, esta é a garantia que os trabalhadores e o povo têm como certa", afirmou o secretário-geral do PCP

Jerónimo de Sousa entende que "ficou claro" que os passos que foram dados na defesa, reposição e conquista de direitos "não foram em vão". "Não são suficientes para a resposta necessária aos problemas nacionais, à concretização de um Portugal desenvolvido e soberano". 

Na ótica do secretário-geral do partido, "a situação do país e a sua evolução coloca hoje com mais força a necessidade de abrir caminho a uma política que rompa com opções essenciais da política da direita que o PS não abandonou e que em aspetos estruturais seguiu".

E por isso, reafirmou que a resposta plena aos problemas do país reclama a "rutura com o interesse do grande capital, colocando a valorização do trabalho e dos trabalhadores, como objetivo central, e também com a política de submissão às imposições do euro e da UE, afirmando o direito do país a um desenvolvimento soberano". 

"A estabilidade está nas mãos do PCP"

Questionado pelos jornalistas, depois da declaração inicial, sobre se não seria melhor um acordo formal com o PS para a próxima legislatura, Jerónimo de Sousa defendeu que "não há, à partida, qualquer problema de estabilidade (...) para lá do que a ação política do Governo tem de assegurar". 

"Assim foi ao longo de décadas com governos minoritários (…) A estabilidade de qualquer Governo, é uma lição da história, depende da correspondência entre a política que executa e as aspirações dos trabalhadores e do povo português", frisou.

"A haver a correspondência com essas aspirações, apesar dos avanços verificados, ainda há muita coisa para avançar, se o Governo PS fizer isso, vai ver que encontra a estabilidade necessária para continuar a governar. A questão central é saber se, perante esta situação, o Governo do PS vai agir em muitas medidas que naturalmente terão a lógica reação política e social. A estabilidade está nas mãos do PCP", atirou. 

Jerónimo de Sousa recordou ainda que a exigência do então Presidente da República  de um papel resultou não num acordo mas numa posição conjunta que definia âmbitos de convergência particularmente nos avanços em relação a direitos e rendimentos". " Não foi mais do que isso", realçou.

Não havendo agora essa pressão, visto que Marcelo Rebelo de Sousa não exige um acordo escrito, " é aguardar pelo programa do Governo, pela própria proposta do Orçamento do Estado".

E sobre os Orçamentos, Jerónimo recordou ainda que na legislatura que passou nunca houve por parte do PCP a garantia, à partida, de voto favorável. "Fazia parte dessa posição conjunta o exame comum da proposta de OE, guardando a votação perante o resultado final desse processo de discussão para decidir o seu voto", explicou, garantindo que assim será na próxima legislatura. 

PCP recusa assinar documento 

O secretário-geral comunista manteve, portanto, a recusa em assinar qualquer documento com o PS, semelhante ao que viabilizou o Governo minoritário há quatro anos, reafirmando a independência do PCP e o seu compromisso com "trabalhadores e povo".

"A interpretação que dão a esse papel nega o real posicionamento, desde a primeira hora, por parte do PCP. De facto, não houve um acordo, não houve uma maioria de esquerda, não houve uma maioria parlamentar. Eram as matérias em concreto que determinavam a nossa posição. Como poderia haver um tal acordo se o PS, em matérias de fundo e estruturantes, voltou ao regaço do PSD e do CDS, fazendo aprovar normas e leis profundamente injustas? Seria uma contradição", realçou. 

O secretário-geral do PCP manteve a expectativa sobre a reunião agendada para a tarde de hoje com a comitiva do PS, encabeçada pelo chefe de Governo, António Costa.

"Acho que não é perda de tempo. É o momento para conhecer os objetivos do PS. Não quero fazer nenhum juízo de valor antecipado em relação ao que o PS pretende afirmar aqui. Não vai ser uma reunião crispada, vai ser clarificadora", previu.

Questionado sobre a eventualidade de o PS chegar a alguma espécie de entendimento apenas com um dos outros parceiros à esquerda, o BE, por exemplo, Jerónimo de Sousa desvalorizou tal hipótese.

"Não fragiliza [a posição do PCP] porque estivemos sempre, de forma franca e franca, com o PS. O PS não tem nenhuma ilusão em relação ao posicionamento do PCP. Sempre lidámos com franqueza e frontalidade. Sempre tivemos um papel decisivo na construção dos avanços, muitos deles com a marca do PCP. O PS sabe, desde a primeira hora, em que reunimos depois das eleições de 2015, independentemente do esforço que fizemos para viabilizar o Governo e vários orçamentos, sempre soube que mantínhamos a nossa independência. Não há aqui nenhuma arca encoirada. O PS sabe ao que vem", disse.

António Costa e Jerónimo de Sousa reúnem-se esta quarta-feira, pelas 16 h. 

 

 

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