"Aquilo que temos de mudar em termos de energia nas nossas casas, empresas e nas nossas comunidades, aquilo que vamos automatizar e onde os processos vão ser automáticos e dispensar o uso de papel ou a implicação de tantas pessoas, se faça para as pessoas e com as pessoas, mantendo os empregos e permitindo a sua requalificação de uma profissão que desaparece para outra nova", disse à agência Lusa a eurodeputada, que falava à margem da conferência "Europa corre o risco de ter uma sociedade mais injusta", em Lisboa.
E prosseguiu: "É preciso partilhar o conhecimento com todos os cidadãos, pois senão corremos o grande risco das pessoas se virarem contra duas transições que inevitavelmente temos de fazer para salvar este planeta e para tornar a Europa um espaço competitivo e com emprego qualificado relativamente a outros gigantes mundiais que com ela concorrem".
A deputada europeia, que foi ministra da Presidência do anterior governo português liderado pelo primeiro-ministro António Costa, afirmou ainda à Lusa que "Portugal está a posicionar-se bem em qualquer das transições [energética e digital]".
"Portugal tem um programa que visa não só investir na investigação e na experimentação usando a inteligência artificial, para melhorar os serviços públicos, os serviços de saúde, a administração pública, mas também para partilhar o conhecimento com as pessoas seja qual for a sua idade e as fazer beneficiar desta transição digital", salientou a eurodeputada.
Questionada sobre o risco de termos uma sociedade mais injusta, disse que se corre sempre o risco de isso acontecer, mas que o que se está a fazer "é tentar que as duas transições sejam desenhadas e programadas no tempo ou com o tempo necessário para serem justas".
"A transição digital justa e a transição ecológica justa. E justa é que essa transição não beneficie só alguns, mas beneficie a sociedade em geral. Não deixem alguns de fora dos benefícios e alguns a acumular aquilo que as transições trazem nesse domínio", salientou a eurodeputada.
Outro dos participantes no painel sobre a transição digital e energética, Arlindo Oliveira, professor do Instituto Superior Técnico e especialista em Inteligência Artificial, disse que a transição a que se está a assistir "traz desafios mas também oportunidades".
"Está a ser uma transição relativamente progressiva que traz acima de tudo oportunidades, pois é um movimento de novas tecnologias, enquanto a transição para uma economia de baixo carbono traz um potencial grande para a indústria portuguesa, tanto na áreas da energia como noutras áreas desenvolvendo novas tecnologias que poderão ser competitivas a nível internacional", sublinhou o responsável.
"Daí que considere que estamos bem posicionados a nível internacional", rematou.
Já sobre os riscos vê dois: "o de um país a duas velocidades. As pessoas que estão integradas no digital e as que não têm essas competências", além do risco da privacidade, embora advogue um compromisso entre a privacidade e a segurança e o desenvolvimento económico por outro lado.
O advogado Cruz Vilaça, sócio da sociedade de advogados Cruz Vilaça e Associados, entidade organizadora do evento, disse à agência Lusa que se está "numa emergência ambiental, muito ligada à produção de carbono através das fontes de energia".
"É preciso decididamente avançar na neutralização carbónica das economias", disse, lembrando que a Europa "tem liderado esse processo", mas que não pode ser "unilateral", lembrando outros países e regiões do mundo.
Quanto à transição digital disse que é "fundamental" para a produtividade e competitividade da economia europeia e adiantou que "a Europa tem métodos, recursos e tem tido determinação política em avançar", o que é vital para a afirmação europeia no mundo, precisou o advogado e especialista em questões europeias.