"Será que em 2020 o racismo é mesmo uma 'paranóia'?", questiona André Silva, porta-voz do PAN, através das redes sociais, numa publicação de reação às declarações do líder do Chega, André Ventura, sobre a deputada única Joacine Katar Moreira.
"As declarações de André Ventura sobre Joacine Katar Moreira são abjectas e devem merecer o repúdio de todos aqueles que defendem uma sociedade do Século XXI empática, evoluída e aberta", acrescenta André Silva, lembrando que "um adversário político combate-se com argumentos racionais e não com ofensas pessoais".
"Infelizmente, estas declarações demonstram que no Portugal de 2020 o racismo não é uma 'paranóia', pelo menos, no plano político", termina.
Também Adolfo Mesquista Nunes, ex-secretário de Estado e ex-vice-presidente do CDS-PP, manifesta a sua opinião em relação ao caso, apelando a uma "distância" entre este tipo de declarações e "direita das liberdades". "Está aqui tudo, tudo, o que a direita das liberdades não é. Está aqui tudo, tudo, o que o princípio da dignidade da pessoa não autoriza. Distância, aconselha-se", escreve.
Miguel Poiares Maduro faz uma observação similar, partilhando um comentário de Francisco Mendes da Silva, membro da comissão política nacional do CDS, onde se pede à Direita partidária que tenha a "coragem moral de estabelecer um cordão sanitário que a separe irremediavelmente" de André Ventura. "O Francisco Mendes da Silva tem razão. Esta declaração de André Ventura é inaceitável, ainda mais tratando-se de um deputado. E não me venham com as asneiras que diz e faz a Joacine", escreve o antigo ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional do governo de Pedro Passos Coelho.
Todos fazem referência à mensagem escrita por André Ventura no Facebook, onde sugere que Joacine Katar Moreira, que deu a cara por uma proposta do Livre para que o património das ex-colónias possa ser devolvido aos países de origem, seja ela própria "devolvida ao seu país de origem". "Seria muito mais tranquilo para todos... inclusivamente para o seu partido! Mas sobretudo para Portugal", escreveu.
As palavras do deputado único do Chega deram origem a uma reação por parte do Livre, condenando-as como "palavras deploráveis e racistas". No mesmo comunicado, o partido da papoila critica ainda a referência ao nome da sua deputada única feita esta terça-feira pelo novo líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos.
Rui Tavares, fundador do Livre, escreveu no Facebook que esta situação "é inaceitável" e espera "que seja unanimemente condenada". "Não pode valer tudo e nenhuma discordância pode justificar a defesa da retirada de um direito fundamental a uma cidadã só por ser adversária política de quem não entende a democracia nem o estado de direito", acrescentou.
No mesmo sentido, reagiram o Bloco de Esquerda, através de Pedro Filipe Soares, que irá propor um voto de condenação ao presidente da Assembleia da República, e a presidente do Departamento das Mulheres Socialistas, Elza Pais, que acusa Ventura de "racismo" e de "sexismo", violando os princípios fundamentais da Constituição.
Também Isabel Moreira recorreu ao Facebook para mostrar a sua posição sobre esta questão. A deputada escreveu que "há limites" e que "André Ventura não pode dizer tudo o que quer".
"Não pode dizer que seria bom deportar uma deputada portuguesa (que ele faz por fazer sentir que não é). O dever de todos e de todas as deputadas que gostam do Estado de direito é repudiar este racismo atroz", acrescentou.
Já Miguel Tiago, ex-deputado do PCP, referiu na mesma rede social que "o deputado do Chega devia ser devolvido ao passado bafiento de onde veio e de onde foi desenterrar o seu ídolo fascista".
Francisco Louçã partilhou o comentário de André Ventura e colocou uma questão em tom reprovatório: "É só porque é uma mulher, não é, Dr. Ventura?"
Pedro Delgado Alves, deputado do Partido Socialista, recorreu também ao Facebook para comentar a publicação do líder do Chega. "Para quem busca fontes jurídicas para condenar as afirmações de Ventura de hoje não faltam opções: a Constituição da República, os bens jurídicos tutelados no Código Penal e na legislação contra a discriminação xenófoba, o Estatuto dos Deputados, o Código de Conduta dos Deputados, entre vários outros", afirma.
"A questão deve no entanto ser logo encarada num outro plano, sobre o que é a nossa comunidade: estes valores não são os da República Portuguesa, estes valores não têm lugar no século XXI, estes valores que negam o outro é os seus direitos não podem voltar a ter espaço político numa Democracia e num Estado de Direito", completa.
Ribeiro e Castro, ex-presidente do CDS-PP, disse não conhecer "um só país em que um(a) deputado(a) tenha pedido a deportação de outro(a). Alguém conhece? É para um estudo académico", ironiza.
Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, escreveu: "É com este deputado que os outros partidos da Direita não excluem entendimentos. E isso diz mais deles do que dele".
Por fim, também João Cotrim Figueiredo, líder do Iniciativa Liberal, colocou no Twitter uma mensagem onde critica André Ventura: "Estou saturado, e não sou só eu, de criancices políticas, quer de quem acha que a história se rescreve ao gosto de visões identitárias, quer de quem usa o racismo como isco para agradar às franjas eleitorais. Grau zero da política. Não contém com a IL para este triste espetáculo", referiu.