'Chicão' desafia Costa a criar um gabinete de crise para lidar com surto

O líder do CDS afirmou que os portugueses não têm confiança no Ministério da Saúde ou na Direção-Geral de Saúde.

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Mafalda Tello Silva
08/03/2020 23:45 ‧ 08/03/2020 por Mafalda Tello Silva

Política

CDS

Francisco Rodrigo dos Santos sugeriu, este domingo, que o primeiro-ministro devia criar "um gabinete de crise" para acompanhar e tratar da propagação do surto do Covid-19, em Portugal.

Em entrevista à RTP, transmitida no Telejornal, o líder do CDS acrescentou que este gabinete deveria "congregar membros do Governo, sobretudo das áreas da Economia, Finanças, Turismo, Transportes e Saúde" e reunir "também representantes do setor da Indústria, Comércio e Serviços". "Acho importantíssimo", sublinhou. 

Sublinhando que qualquer "crise" deve ser tratada com "cautela, prudência e competência", sobre a situação portuguesa o dirigente  focou que existe "falta de confiança" no Ministério da Saúde e na Direção-Geral de Saúde (DGS). 

"O que me parece é que não está criado, em Portugal, um clima de confiança no Ministério da Saúde ou na DGS que permita a informação necessária e a adoção de comportamentos preventivos que evitem o alarmismo social", declarou. 

Para Francisco Rodrigo dos Santos as provas desta descrença estão à vista: "Primeiro, porque o primeiro-ministro avocou a si a comunicação neste processo, o que parece indiciar que notou que da parte dos portugueses existe alguma desconfiança perante o Ministério da Saúde e a DGS". 

Outro argumento apontado pelo sucessor de Assunção Cristas remete para o caso da não recondução de funções do presidente do conselho de administração dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, Henrique Martins. "[António Costa] anunciou no debate quinzenal que não se substituam generais em tempo de guerra, (...) mas chegou mesmo a substituir um coronel", atirou.

Ainda pegando na referência dos "generais", o centrista apontou que a ministra da Saúde, Marta Temido, e a diretora-geral da Saúde, Graças Freitas, "têm tido mensagens descoordenadas e equívocas".

Concordando, contudo, que "não há nenhum país que esteja verdadeiramente preparado" para esta situação, 'Chicão' considerou que "era importante saber qual é o plano de contingência que Portugal tem preparado para fazer frente a esta epidemia" porque as "autarquias, escolas e os lares não sabem que comportamentos devem adoptar no âmbito preventivo" e a "possibilidade de colapso da Linha SNS24" é uma realidade. 

"Acho importantíssimo também para se tratar de uma resposta de saúde que seja eficiente, de modo a que os portugueses saibam, tenham as informações necessárias para responder de forma exemplar a estes casos", vincou. 

O presidente defendeu também que "o impacto económico" deve ser "acautelado, sobretudo na indústria portuguesa que depende da importação de matérias-primas". Na ótica de Rodrigues dos Santos, devia existir uma "diversificação das cadeias de valor" e "uma subsidiação a quem tem de fazer esta importação", para que "não seja colocado em causa o acesso a bens e serviços essenciais".

"Portugal não pode correr o risco de perder esta guerra", alertou, advogando "uma reposta sistémica" e que "as entidades políticas devem tranquilizar os portugueses".

O líder centrista sublinhou também que o partido já "requereu que a ministra da Saúde fosse ouvida no Parlamento e solicitou que houvesse uma audição ao bastonário da Ordem dos Médicos e à bastonária da Ordem dos Enfermeiros". "Da parte do CDS teremos uma postura responsável, mas não deixaremos de abrandar na crítica para que não haja uma gestão caótica. Não pode haver uma gestão caótica nesta matéria", concluiu o dirigente. 

Do aeroporto do Montijo às autárquicas

Na entrevista, Francisco Rodrigues dos Santos falou também no novo aeroporto que deverá ser construído no Montijo, considerando esta obra "fundamental para a economia". Por isso, defendeu, "da parte dos partidos políticos, devem ser encetados todos os esforços para que Portugal não regrida, porque voltar a inaugurar esta discussão, é sinal de que Portugal perderá milhões e milhões de euros" e é eternizar "uma discussão que precisa de uma resposta emergente".

Questionado sobre a proposta de alteração à lei que estabelece que a inexistência do parecer favorável de todos os concelhos afetados "constitui fundamento para indeferimento" da obra, o presidente do CDS defendeu que este assunto deve merecer "um amplo consenso nacional, neste caso entre o PSD, o CDS e o PS".

Voltando às críticas a Costa, o líder dos centristas salientou que "esta estratégia um bocadinho belicista e confrontacional que o Governo tem encetado com a oposição tem impedido convergências em matérias de interesse nacional", mas adiantou que o CDS irá avaliar "as soluções que o Governo apresentará".

Falando ainda sobre as eleições autárquicas do próximo ano, nomeadamente numa possível coligação com o PSD para a Câmara de Lisboa, Francisco Rodrigues dos Santos observou que "o PSD, se tiver interesse em ganhar uma câmara como a capital do país, certamente que avaliará esta circunstância também à luz dos resultados anteriores, que colocam o CDS numa situação de dianteira".

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