À saída do Conselho Europeu, que reuniu os 27 Estados-membros através de videoconferência, o primeiro-ministro português disse que se chegou a um "mínimo denominador comum", que não houve consenso na questão da emissão conjunta de dívida e clarificou que não foram só dois países a "bloquear" essa possibilidade.
"Portugal subscreveu com outros oito Estados uma carta ao presidente da Comissão dizendo precisamente que este era o momento da UE ser mais ousada e poder efetivamente recorrer a todos os mecanismos previstos no tratado, designadamente a possibilidade de emissão de dívidas para fazer face a situações absolutamente extraordinárias como esta que estamos a enfrentar", começou por dizer António Costa, em declarações aos jornalistas depois de uma reunião que se prolongou por seis horas.
"É, aliás, difícil conseguir imaginar uma situação mais extraordinária que atinja de uma forma mais global todos os Estados-membros por uma causa absolutamente estranha a qualquer um deles, por um facto absolutamente imprevisível e que justifique a utilização desta medida", frisou, lamentando a posição incoerente de alguns Estados-membros perante tamanha crise.
Para o chefe do Executivo português, "não podemos, simultaneamente, dizer como disse Merkel - e bem - que estamos a enfrentar a maior crise que a Europa viveu desde a Segunda Grande Guerra e não termos a capacidade de fazer aquilo que é necessário fazer".
E explicando que a reunião do Conselho Europeu foi longa porque "sucessivamente todos fomos colocando reservas às redações que iam sendo feitas", o primeiro-ministro sublinhou que, por fim, se chegou "a um mínimo denominador comum", o que, na ótica de António Costa, não é suficiente.
"A Europa precisa de muito mais do que um denominador comum. A Europa precisa de um máximo mobilizador comum para fazer frente a uma crise desta dimensão", reforçou.
António Costa explicou ainda que a possibilidade de emissão de dívida conjunta na UE para financiar as ações de todos os países para combater a pandemia - as já apelidadas 'coronabonds' - é uma discussão que está em aberto e sobre a qual "não há consenso".
"Dos nove países que assinaram a carta, houve mais quatro que se juntaram. Houve só quatro que se opuseram claramente e outros que ainda não tomaram posição", disse, lembrando que questões como esta requerem unanimidade. E é nesse sentido que "vamos continuar a trabalhar", assegurou.
"Porque a Europa não pode ficar aquém daquilo que os cidadãos pedem, que seja capaz de se afirmar, de ter uma posição clara e de liderança num momento de crise da gravidade como aquela que estamos a enfrentar", defendeu.
"Uma porta que se abre"
Todavia, Costa revelou que um dos Estados-membros que se opõe à emissão de dívida está disponível para discutir, o "que dá algum alento".
"Em boa verdade", os quatro que se opuseram são "três totalmente contra" e "um que, sendo contra, tem abertura de espírito para discutir o que anteriormente nunca esteve disponível para discutir", precisou o primeiro-ministro. "É uma porta que se abre, dá algum alento", afirmou, recusando contudo identificar qualquer um dos Estados-membros a que se referia.
Ao fim de cerca de seis horas de discussões, através de videoconferência, os líderes dos 27 adotaram uma declaração conjunta que, no capítulo dedicado a como "enfrentar as consequências socioeconómicas" da pandemia, convida o fórum de ministros das Finanças da zona euro, presidido por Mário Centeno, a apresentar propostas, "dentro de duas semanas", que "tenham em conta a natureza sem precedentes do choque de covid-19" que afeta as economias de todos os Estados-membros.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 505 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 23.000. Dos casos de infeção, pelo menos 108.900 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia, cujo epicentro é atualmente o continente europeu, com quase 275.000 infetados e 16.000 mortos, sendo a Itália o país do mundo com mais vítimas mortais, com 8.165 mortos em 80.539 casos registados até hoje.