"Porventura, a agenda de Mário Centeno é contraditória com a do Governo"

Francisco Louçã acredita que Mário Centeno faz depender as suas ações como ministro das Finanças da sua data de saída do Governo.

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Anabela Sousa Dantas
03/04/2020 23:11 ‧ 03/04/2020 por Anabela Sousa Dantas

Política

Francisco Louçã

Francisco Louçã mantém a convicção de que Mário Centeno tem em vista a saída do Governo para assumir o cargo de governador do Banco de Portugal, ainda que o próprio tenha desvalorizado essa especulação na semana passada, indicando que assumiu um cargo no qual está "totalmente focado".

Porém, para o comentador, que se debruçou sobre o assunto esta noite, na antena da SIC Notícias, as suas tomadas de decisão - e a sua ausência do panorama nacional - indiciam uma vontade de sair.

"É uma pergunta que muita gente coloca: Porque é que o ministro das Finanças desapareceu? Desapareceu por completo, entendamos. A única função que ele parece ter, neste momento, é negociar no Eurogrupo. Porventura, a agenda de Mário Centeno é contraditória com a do Governo", teorizou o antigo coordenador do Bloco de Esquerda.

Louçã recordou a reunião entre Mário Centeno, também presidente do Eurogrupo, e o Presidente da República, tendo o primeiro afirmado, no final dessa reunião, que não sairia do Governo. "Depois dessa reunião, Mário Centeno disse que ainda ficaria, mas ficaria até quando? Até junho, presumindo que a pandemia se alivie entretanto, ou até dezembro, depois de aprovado o Orçamento do Estado (OE) que reajusta a Economia a esta nova situação?", indagou.

O comentador disse que Centeno não só "procura atrasar a aprovação do orçamento retificativo", como "parece defender a tese de haverá uma recuperação muito rápida", descrevendo esta posição como "confortável para a sua vontade de sair muito depressa".

Sobre o adiamento de um orçamento retificativo, que o ministro das Finanças já se dispôs a aprovar, mas não antes de se esgotarem os mecanismos do atual, Francisco Louçã é particularmente crítico. "Creio que isto é um erro, devia ser discutido e aprovado em maio", disse o conselheiro de Estado, explicando que "só no 'lay off' o Governo pensa gastar, do OE, uma verba que não existe: dois mil milhões de euros em março e abril".

"É importante haver regras claras para o conjunto da Economia", atirou Louçã. "Isso implicava que o ministro das Finanças tivesse uma atitude ativa e não estivesse a calcular o tempo, os dias, até à sua saída. Em todo caso fica este mistério, criado por Centeno, reforçado por Centeno, quando é que ele sai", terminou.

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