Adalberto Campos Fernandes defende mais meios e união em torno de SNS

O ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes pediu hoje uma maior união em torno do SNS nesta fase de pandemia, defendendo mais investimento e menos restrições orçamentais, porque as necessidades em saúde não vão parar de aumentar.

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Lusa
23/04/2020 08:22 ‧ 23/04/2020 por Lusa

Política

Covid-19

 

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem que "ter não só reconhecimento, mas tem que ter mais meios, mais investimento e tem que estar preparado para novas situações [que surjam] no futuro", afirmou o ex-ministro em entrevista à agência Lusa.

Questionado se o SNS ficará mais reforçado depois da pandemia, afirmou que, neste momento, tem havido "uma preocupação legítima e que faz sentido com a questão dos ventiladores", mas considerou que as necessidades vão muito para além destes dispositivos.

"Temos uma população muito envelhecida, muito pobre, uma população doente e as necessidades em saúde não vão parar de aumentar", alertou.

Por outro lado, o peso das doenças crónicas também "não vai parar de aumentar e, portanto, não vale a pena continuar a insistir nesta ideia de que a saúde é uma espécie de benefício extra ou de que a saúde deve ser exposta à restrição orçamental como acontece noutros setores", disse o ex-governante que foi ministro da Saúde entre 2015 e 2018 no primeiro governo chefiado por António Costa.

"É preciso que a Europa perceba que não pode estrangular os Estados", disse, lembrando o "dilema muito grande" vivido no pós-troika em que o país precisava de equilibrar as contas públicas, libertar-se de juros que "eram muito pesados para conseguir reanimar a economia".

"Mas a saúde não pode, do meu ponto de vista, ser tratada como uma despesa que é tão evitável como são outro tipo de despesa, principalmente, em países como Portugal, Espanha e Itália, que estão a ser fortemente condicionados pela transição demográfica e pelo envelhecimento", defendeu.

E, sublinhou, foi "pelas piores razões" que se chegou a esta conclusão: "estamos perante um quadro sanitário muito grave, mas eu só espero que de facto as lições fiquem na Europa, na Comissão Europeia, no Eurogrupo, no Banco Central Europeu, enfim, que em todo o lado se perceba que não há países sem pessoas e não há economia sem pessoas saudáveis".

Relativamente a um possível levantamento do estado de emergência em Portugal em 02 de maio e o retomar aos poucos da atividade económica, o ex-governante disse que "é preciso voltar" por causa da sustentabilidade do emprego e da economia.

Mas advertiu que "é muito pouco prudente um discurso excessivamente otimista": "nós não ganhámos nada, a única coisa que ganhamos foi tempo e protegemos transitoriamente o sistema de saúde de uma disfunção grave, mas não temos vacina, não temos medicamento, não temos imunidade de grupo", salientou.

"Evitámos a rutura dos hospitais porque os portugueses disciplinadamente assumiram uma atitude responsável, de auto confinamento, de reserva e distanciamento e isso evitou a situação italiana que foi desde o primeiro minuto a nossa grande preocupação e espanhola com os hospitais em rutura", frisou.

No entanto, é preciso que os portugueses compreendam que ainda não estão protegidos e que se não forem cautelosos quando voltarem ao trabalho, às universidades, às escolas pode haver "uma segunda vaga que pode ter consequências muito negativas".

No seu entender, "a máscara é dos poucos instrumentos que no 'kit' de proteção individual pode evitar que uma segunda vaga venha destruir o clima de confiança" gerado na primeira vaga, em que se conseguiu proteger o sistema de saúde.

Enalteceu ainda o facto de os portugueses sempre terem valorizado o SNS, considerando-o um "pilar estratégico".

Um sistema de saúde "não é apenas ter hospitais, ter centros de saúde, ter equipamentos, é preciso ter um edifício de capital humano", que demora décadas a construir.

"Temos equipamentos, temos edifícios, embora envelhecidos, carentes de modernização e investimento, mas o ativo principal do SNS em Portugal são os profissionais".

"Este é um aspeto que eu creio que no futuro ninguém mais vai pôr em causa", disse Adalberto Campos Fernandes, manifestando o seu "reconhecimento e orgulho de ter exercido funções governativas de um país que tem um dos melhores sistemas de saúde do mundo".

O antigo ministro quis também deixar o apelo "a todos os portugueses para que se unam ainda mais nesta fase, independentemente da orientação política, ideológica, do posicionamento que possam ter em torno da defesa do melhor serviço público que a democracia criou".

 

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