CDS critica Rui Tavares na telescola. Líder do Livre já reagiu

Depois das críticas nas redes sociais, passando pelo pedido de explicações ao Governo por parte do CDS, Rui Tavares reage, em declarações ao Notícias ao Minuto, à polémica sobre a transmissão numa aula da telescola de um excerto de um programa no qual participou.

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Mafalda Tello Silva
04/05/2020 22:16 ‧ 04/05/2020 por Mafalda Tello Silva

Política

GNR

O que começou por críticas nas redes sociais cresceu para uma polémica com direito a um pedido de explicações por parte do CDS endereçado ao Governo. Em causa está um excerto de um programa da RTP2, intitulado a 'Exposição do Mundo Português', transmitido numa aula da telescola, no passado dia 24 de abril, do módulo de História e Geografia de Portugal do 5.º e 6.º ano do ensino básico

Nesta aula foi utilizada uma parte, cerca de seis minutos, do programa protagonizado por Rui Tavares, historiador de profissão e líder do partido Livre.

Nas redes sociais, Nuno Melo, eurodeputado do CDS, criticou, esta segunda-feria, a escolha de transmissão do programa defendendo que era "política travestida de educação. Miséria".

"Entre tantos, Rui Tavares, dirigente de um partido de extrema-esquerda no activo, foi escolhido para a telescola, destilando ideologia e transformando alunos em cobaias do socialismo. Nem disfarçam. Uma aviltante e ignóbil revolução cultural em marcha que pais sem recursos não podem evitar", sustentou. 

Ainda no plano das redes sociais, não tardou para David Justino, historiador também de formação e atualmente vice-presidente do PSD, sair em defesa do dirigente do Livre: "Basta rever a 'aula' para perceber que o alarido é desonesto, manipulador e próprio de uma direita trauliteira sem escrúpulos. Eu não teria a paciência do Rui Tavares para responder a estes ataques. Por muito que discorde dele, neste caso tem toda a razão", afirmou o social-democrata. 

Ao Notícias ao Minuto, Rui Tavares reagiu às críticas defendendo que, primeiramente, "não é verdade" que tenha dado aulas na telescola, apesar de "não haver mal nenhum" caso o tivesse feito. Para o dirigente político, Nuno Melo não deveria "pronunciar-se sem conhecer o conteúdo do programa em causa".

"Pelos vistos [Nuno Melo] nem sequer viu porque o programa não fala dos Descobrimentos como está a alegar" (Rui Tavares)

"['Exposição do Mundo Português'] é um programa que tal como mandam as regras de deontologia de um historiador contextualiza os argumentos de várias partes. Começo pelos argumentos do Estado Novo, depois da Oposição e depois pelos dos observadores externos. No fim, faço uma conclusão. Menos do que isto não é historiografia. Menos do que isto é ser escrivão da propaganda de um regime passado", sustentou. 

Contudo, o CDS não se ficou pelas críticas. Ainda hoje, o partido liderado por Francisco Rodrigues dos Santos entregou no Parlamento um pedido de esclarecimento ao ministro da Educação sobre "a escolha do presidente do Livre para o projeto Estudo em Casa". 

Alegando que a aula foi "parcialmente" dada pelo historiador e político, "publicamente reconhecido como seu líder do Livre", o grupo parlamentar centrista revela que "recebeu denúncias de várias pessoas, queixando-se de que o conteúdo foi dado sem isenção, mas sim com análise política e crítica do historiador (e, por isso, deturpada), relativas ao período em causa"

Evocando a Constituição, os parlamentares exigem que o ministro Tiago Brandão Rodrigues explique se considera "aceitável a escolha de um político, independentemente do partido a que pertença, para ministrar aulas neste projeto"; se não defende que "as aulas, nomeadamente as aulas de História, devem ser dadas de forma politicamente isenta" e que "medidas vão ser tomadas no sentido de corrigir esta situação, de modo a que não se repita". 

Sobre este pedido de intervenção ao Governo, Rui Tavares deixou um recado aos centristas: "Vejo que o CDS decidiu pedir explicações ao Ministério da Educação sobre o meu episódio, considerando que não conseguiu até agora comprovar que há qualquer deturpação ou falta de rigor, atenção que alegações infundadas ao exercício profissional de uma pessoa é difamação". "Portanto, deveriam ter muito cuidado com aquilo que estão a fazer", acrescentou em declarações ao Notícias ao Minuto.  

Ainda sobre o pedido de explicação à tutela, o líder do Livre disse não querer "fazer análise política", "precisamente", pela questão ter a ver com sua atividade profissional e não com o cargo político que desempenha

"Não quero que entremos numa sociedade de hipervigilância" (Rui Tavares)Contudo, sobre a utilização do excerto do programa em que participou, Rui Tavares lembrou que "amanhã pode ser uma parte de um programa em que tenha participado Fátima Bonifácio, Fernando Rosa ou David Justino, tudo historiadores ou que já tiveram atividade política ou que têm posições políticas bem conhecidas" e que no dia em que isso acontecer espera que "não haja ninguém do lado contrário a exigir explicações ao Ministério sobre o porquê de ter aparecido Fátima Bonifácio ou Rui Ramos".

"Isto que algumas pessoas estão a fazer de forma pouco pensada e sensata podia gerar uma espécie de ambiente em que andássemos todos, de um lado para o outro, a tentar silenciar historiadores só porque não gostávamos da sua atividade política. Não é isso que nós queremos para a nossa sociedade. É altura das pessoas porem a mão na consciência e pararem este tipo de derivas", defendeu o historiador. 

Por fim, o dirigente político denotou ainda que esta situação mostra por parte do CDS "uma atitude restritiva sobre quem deve ou não falar ou sobre que conteúdos podem ou não ser passados numa aula". "Não quero que entremos numa sociedade de hipervigilância", concluiu Rui Tavares. 

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