A coordenadora do Bloco de Esquerda disse esta segunda-feira, em entrevista à TSF, que na resposta à Covid-19 que "tem faltado estratégia para o dia seguinte", apesar de reconhecer "humildade" do Governo na forma como está a lidar com um vírus novo.
"Acho que nos tem faltado visão de como é que se reconstrói o país, do ponto de vista social e económico. Tem faltado uma estratégia para o dia seguinte, afirmou, considerando nomeadamente, em matéria de emprego, "o que poupamos com apoio às empresas estamos a gastar com subsídios de desemprego", o que deixa a "economia mais depauperada".
Na área da saúde, a bloquista deu como exemplo o facto de se ter deixado de fora do combate à Covid-19 os hospitais privados, deixando o Serviço Nacional de Saúde (SNS) "paralisado" e atribuindo-se "um cheque ainda mais gordo" aos privados para a realização de atos programados.
Catarina Martins defendeu não se ter proibido logo os despedimentos, assim como a distribuição de dividendos.
Catarina Martins foi questionada sobre a autorização de uma nova transferência de 850 milhões de euros do fundo de resolução para o Novo Banco, que terá sido autorizada pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, sem o conhecimento do primeiro-ministro, António Costa, e sem que estivesse concluída a auditoria a essa instituição. "É preocupante que o ministro das Finanças faça uma coisa dessas sem o primeiro-ministro saber e mais preocupante é que o Estado faça injeções no Novo Banco sem saber o que lá se passa", afirmou.
A coordenadora do BE recordou que, no âmbito do Orçamento do Estado para 2020, o partido já tinha proposto que qualquer injeção no Novo Banco tivesse de ser autorizada pelo Parlamento, mas foi chumbado, também com os votos do PSD.
"Agora vejo que o PSD se diz chocado [com esta nova transferência sem os resultados da auditoria], o que há a fazer é aprovarem o que o BE vai apresentar em forma de projeto-lei: não há nenhuma injeção no fundo de resolução para o Novo Banco sem haver aprovação do Parlamento", afirmou.
A bloquista admitiu que nesta fase difícil para o país, tem existido muita "solidariedade" na resposta sanitária, tendo o Bloco "tido o cuidado natural de não criar frições e problemas", promovendo um "diálogo com contributos". Todavia, recordou como foi "uma oportunidade desperdiçada" quando, depois das eleições, o BE propôs ao PS um acordo que mexia na legislação laboral.
Sobre o orçamento suplementar, Catarina Martins afirmou que o Bloco de Esquerda está disponível para a discussão e já tem ouvido especialistas, com o intuito de "reforçar capacidade da economia portuguesa". "Nos últimos tempos vemos um Governo muito mais interessado a negociar à sua direita", disse, apontando que o PS "tem encontrado no PSD mais respostas do que à Esquerda". Em todo o caso, não será por falta de disponibilidade do BE", vincou.
Sobre o crescimento do populismo em Portugal, Catarina Martins afirmou que o Chega "parece estar a substituir o CDS, quando se olha para as sondagens" e justificou esse crescimento, não só em Portugal como no resto do mundo, como o resultado da precariedade e falta de perspetivas de futuro, o que torna "fácil o discurso dos pobres contra os miseráveis".
A coordenadora do BE vincou ainda que o Chega tem um "discurso mentiroso, terrível, que a Europa conheceu bem de mais e que levou à II Guerra Mundial". Neste contexto, a bloquista voltou a elogiar o posicionamento de Ricardo Quaresma.
Questionada sobre se a Festa do Avante, a tradicional rentrée do PCP, é um festival de música ou ação política, a líder bloquista respondeu que é "as duas coisas", mas considerou prematuro saber em que moldes se pode realizar.
"Eu tenho dificuldade em perceber quem já sabe hoje como vai ser o primeiro fim de semana de setembro do ponto de vista da pandemia, nesta matéria como em todas as outras seguir a ciência é muito importante", afirmou.