No debate quinzenal, foi o primeiro vice-presidente da bancada do PSD Adão Silva e não o líder Rui Rio a questionar António Costa, perguntando por que razão teve necessidade de chamar alguém fora de um governo "com 70 membros" para coordenar a preparação do programa de recuperação da economia pós-covid-19.
"É muito importante que, quem está no exercício de funções políticas, seja capaz de ouvir para lá da bolha político-mediática, chamar à colaboração especialistas, técnicos porque têm uma visão fora da caixa que muitas vez nos ajudam a refletir", respondeu o primeiro-ministro, dizendo que já o tinha feito enquanto ministro e presidente da Câmara de Lisboa.
Confrontado por Adão Silva com as críticas que fez em 2012, quando o Governo PSD/CDS-PP contratou António Borges como consultor, o primeiro-ministro considerou que não houve mudança de opinião.
"A única coisa que mudou foi a missão: eu não convidei ninguém para assessorar negócios, convidei alguém para pensar estrategicamente o país", justificou Costa.
"Verifico que estava cansado de estarmos num debate de nível de Estado e voltou para a pequena mesquinhez da politiquice", acrescentou.
António Costa disse ainda que as críticas que fez em 2012 - quando era comentador político - se prenderam com o facto de António Borges ter prestado esclarecimentos na Assembleia da República "por conta do Governo".
"O entendimento que tenho é que à Assembleia da República responder por conta do Governo só vêm os membros do Governo", disse.
António Costa disse ainda respeitar quem tenha uma visão de autossuficiência do sistema político, mas disse não pensar dessa forma: "Já percebemos qual será o estilo de governação do PSD, se não se importa enquanto governar, governarei com o meu estilo", rematou.
O primeiro-ministro assinou terça-feira o despacho que designa o gestor da petrolífera Partex António Costa Silva para coordenar os trabalhos preparatórios de elaboração do Programa de Recuperação Económica e Social 2020-2030, não auferindo de qualquer remuneração ou abono.
No debate quinzenal, o deputado Adão Silva - que deverá ser o sucessor de Rui Rio à frente da liderança da bancada, em eleições que foram adiadas devido à covid-19 - realçou ainda a postura do partido em tempos de pandemia.
"O PSD, como o primeiro-ministro e outros países reconheceram, teve um comportamento impecável e também quer marcar presença neste momento em que nos abalançamos no futuro", disse, evocando as propostas para a recuperação económica apresentadas pelo partido.
Adão Silva salientou que o país vai receber "um maná de milhares de mihões de euro" em fundos europeus e desafiou o Governo a aplicá-lo bem: "Mais do que uma bazuca, que é incerta no tiro, tem de ser um míssil teleguiado, que deve ser bem direcionado".
O primeiro-ministro disse contar com todos "na pluralidade da sua representação, do BE ao Chega" para contribuírem com ideias para o país sair da crise.
"Ainda não tive oportunidade de ler o programa que o PSD apresentou, já o imprimi, levo-o para casa e no meio de tantas paginas e ideias, certamente em algumas haverá convergência, queremos todos o bem de Portugal", disse Costa, em tom bem-disposto.
Adão Silva ainda questionou o primeiro-ministro sobre quantas casas tinham sido recuperadas ao abrigo do fundo nacional de reabilitação do edificado anunciado em 2016 - com uma parte das verbas a virem do fundo de estabilização da Segurança Social - , mas António Costa disse não ter consigo os dados do programa, prometendo enviá-los depois à bancada do PSD.
"Na altura, nós no PSD dissemos que era muito insensato retirar dinheiro das pensões", recordou Adão Silva.
Apesar de não ter os dados, Costa assegurou que mantém o princípio de que as fontes de receita da Segurança Social devem ser diversificadas e que o mercado de arrendamento "pode e deve" ser uma delas.