"São previsões preocupantes, que demonstram o que se passou no Orçamento suplementar, em que é necessário medidas urgentes para repor o equilíbrio das pequenas e médias empresas", afirmou Jerónimo de Sousa, em declarações aos jornalistas, durante uma visita a uma cultura de trigo, no Cadaval, distrito de Lisboa.
Para o secretário-geral do PCP, se o país não produzir mais, e se não se confiar "na expansão do mercado interno, naturalmente as previsões até se podem agravar".
O líder comunista sublinhou que a crise provocada pela pandemia da covid-19 veio intensificar "a necessidade de rutura com esta política de dependência do exterior e de aumento da produção nacional", como forma de valorizar a soberania nacional, tema que o PCP leva a debate em plenário, na quarta-feira.
A estratégia para o comunista está em "procurar outros caminhos" além do turismo e "não apontar para este ou aquele setor".
Jerónimo de Sousa deu o exemplo da agricultura e, em concreto, da produção de trigo. "Hoje só produzimos trigo para duas semanas num ano inteiro, o que demonstra a dependência do estrangeiro em relação a um bem essencial, no caso concreto o pão", disse, sublinhando que existem "possibilidades imensas, capacidades de produzir cá o que nos obrigaram a comprar lá fora".
No caso do trigo, alertou que os agricultores têm dificuldades em escoar a produção e em armazená-la, motivo pelo qual grande parte da produção nacional de trigo vai para o fabrico de rações.
A Comissão Europeia agravou hoje as suas previsões económicas para Portugal este ano face aos choques da covid-19, estimando agora uma contração de 9,8% do PIB, muito acima da anterior projeção de 6,8% e da do Governo, de 6,9%.
Nas previsões intercalares de verão hoje divulgadas, o executivo comunitário reviu em baixa as projeções macroeconómicas, já sombrias, da primavera para o conjunto da zona euro e da UE, mas mostra-se particularmente mais pessimista relativamente a Portugal, ao agravar a projeção de recessão em três pontos percentuais, apenas parcialmente compensada em 2021 com um crescimento de 6,0% (neste caso ligeiramente mais otimista do que os 5,8% antecipados na primavera).
O executivo comunitário espera então agora uma contração em Portugal acima da média da zona euro (-8,7%) e da UE (-8,3%), quando há dois meses estimava que ficasse abaixo, ao antecipar uma queda da economia portuguesa de 6,8%, contra 7,7% no espaço da moeda única e 7,6% no conjunto dos 27 Estados-membros.